Sandy, Lucas e Tolstói: pode a literatura acabar com um casamento?
Sobrou para Liev Tolstói. Um site de fofocas apontou que o autor russo, que morreu em 1910 e escreveu colossos como "Guerra e Paz" e "Anna Karenina", poderia ser o responsável pela separação de Sandy e Lucas Lima. Cogitam que o homem teria decidido deixar a cantora após ler "A Morte de Ivan Ilitch". A novela, tida como uma das mais perfeitas já escritas, é um dos pontos altos da obra de Tolstói.
A literatura tem mesmo dessas coisas. Uma hora você tá lendo, daí tromba com algo que te faz pedir as contas, reaproximar-se de alguém, compreender alguma dor ou tomar coragem para revirar a vida. Fecha um Machado de Assis e, graças a um defunto, compreende que não ter filhos pode ser uma boa.
Não faço a menor ideia do que se passa na intimidade do ex-casal e dos reais motivos por trás do divórcio. Pouco importa. Vai ver que acompanhar o ocaso de um personagem levou mesmo o cara a pedir divórcio de Sandy. Contudo, já que colocaram Tolstói na roda, aproveitemos para dar uma atenção para o cara. É daqueles nomes que sempre merecem ser lidos. E "A Morte de Ivan Ilitch", publicado originalmente em 1886, pode ser uma boa porta de entrada para a sua literatura.
"Nos últimos tempos daquela solidão em que ele se encontrava, deitado com o rosto voltado para o espaldar do sofá, daquela solidão em meio a uma cidade populosa, em meio a seus inúmeros conhecidos e à família — uma solidão tão plena que não poderia haver igual em nenhuma parte, nem no fundo do mar, nem debaixo da terra —, nos últimos tempos daquela terrível solidão, Ivan Ilitch vivia apenas na imaginação do passado. Uma atrás da outra, surgiam-lhes cenas de seu passado."
Pesco o trecho da edição do clássico publicada pela Antofágica em tradução de Lucas Simone. Na apresentação do volume, o crítico literário Yuri Al'Hanati delineia o personagem solitário: um "grande burocrata de alma pequena", que se "crê respeitado e bem-sucedido em sua carreira de juiz, alheio ao fato de que fez pouco mais do que emular uma personalidade com sua trajetória e angariar inveja em relacionamentos interesseiros".
Ivan Ilitch piora paulatinamente, sente-se desamparado e agoniza em seu leito fúnebre. Solitário, mergulha em suas memórias, confronta-se com a própria trajetória e se debate contra o caminho que construiu para si. O que fazer quando uma pessoa, na iminência de morrer, saca que a vida levada tem pouco a ver com aquela que gostaria realmente de ter vivido? Quanto a vaidade e o poder podem ludibriar, turvar os reais interesses de alguém? E, afinal, o que realmente queremos da vida?
"Na morte de Ivan Ilitch todos morremos. Deixamos de lado o cinismo de seus colegas, já não acusamos a desfaçatez do outro ao morrer, sua tolice em sucumbir. Em vez disso, a cada página, vamos conhecendo cada vez mais de perto a agonia, vamos aderindo ao corpo que fenece, vamos sentindo sua terminante vertigem", aponta o escritor Julián Fuks num dos posfácios da mesma edição.
Fica a torcida: que o fim de Sandy e Lucas faça com que mais gente descubra a obra de Tolstói.
Assine a newsletter da Página Cinco no Substack.
Você pode me acompanhar também pelas redes sociais: Twitter, Instagram, YouTube e Spotify.
Deixe seu comentário