Bola cantada no Nobel de Literatura: ainda existe sigilo na Academia Sueca?
Deve ter algum boca de sacola dentro da Academia Sueca.
"Pelas peças e prosas inovadoras que dão voz ao indizível." Esse foi o motivo pelo qual os acadêmicos escolheram Jon Fosse para ficar com o Prêmio Nobel de Literatura de 2023. Norueguês de 64 anos, Fosse é reconhecido principalmente pelas dezenas de peças teatrais escritas. Mas é um autor polivalente: também leva suas letras para a poesia, o romance e a literatura infantil.
Fosse saiu no Brasil em 2015 pela Tordesilhas, que lançou por aqui "Melancolia" (tradução de Marcelo Rondinelli), livro baseado na trajetória do pintor Lars Hertervig, também norueguês. Coincidentemente ou não, duas outras editoras que ostentam nobelizados recentes em seus catálogos estão lançando livros do autor por esses dias.
A Companhia das Letras, responsável por diversos galardoados, já colocou nas livrarias "É a Ales". A Fósforo, casa de Annie Ernaux no Brasil, abriu a pré-venda de "Brancura".
Traduzido por Leonardo Pinto Silva, "Brancura" é um livro de 64 páginas no qual um homem dirige sem rumo e chega a uma floresta. Em meio à noite e à neve, decide perambular pela mata, onde encontra uma imagem branca reluzente. Na obra, segundo a editora, a atmosfera onírica se mescla à transcendência numa narrativa encadeada num fluxo de consciência permeado por vozes que o protagonista escuta.
"É a Ales", traduzido por Guilherme da Silva Braga, é um pouco maior, tem 112 páginas. É apresentado pela Companhia como um romance hipnótico, no qual uma mulher, deitada em sua casa num fiorde, tem uma visão de si no passado. Ela se enxerga no dia em que o marido saiu de barco e nunca mais voltou. É a deixa para mergulhar em memórias que levam o leitor a diferentes gerações familiares.
Contrariando aqueles que dizem que as casas de apostas nunca são um bom termômetro para saber quem levará o prêmio, Fosse era um nome muitíssimo bem cotado neste ano. Ficava atrás apenas da chinesa Can Xue, e por uma diferença mínima.
No ano passado ocorreu algo semelhante. Annie Ernaux, a vencedora, era uma das três maiores favoritas, junto do seu compatriota e desafeto Michel Houellebecq e da canadense Anne Carson. Pelo visto, informações quentes têm rolado pelos corredores da Academia e pelos emails ou whatsApps dos acadêmicos.
O Nobel tem a fama de manter em absoluto sigilo o vencedor até a hora do devido anúncio. Comercialmente falando, no entanto, é interessante para autores e principalmente editores saberem com alguma antecedência o nome do premiado para poderem trabalhar as obras do escolhido e, quem sabe, lançá-las numa data próxima à premiação.
O eventual boca de sacola talvez esteja numa posição muito confortável até para a Academia. Deixa a coisa num lusco-fusco: pairam dúvidas, mas não certezas, sobre quão discretos os suecos podem ser em relação ao Nobel ao mesmo tempo em que parte do mercado editorial fica bem feliz.
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