A Queda da Casa de Usher: o horror de Allan Poe e os caminhos dos livros
"A Queda da Casa de Usher" foi publicado por Edgar Allan Poe em 1839. No conto, o leitor é levado para uma casa assombrada, onde horrores parecem oscilar entre elementos fantásticos e armadilhas da mente.
Há quem aponte Poe como o nome mais importante da história da literatura dos Estados Unidos, o que não é pouco. O cara, que morreu em 1849, aos 40 anos, moldou as histórias de terror e mistério, cunhou poemas como "O Corvo" (traduzido, dentre outros, por Machado de Assis) e deixou uma importante contribuição para os estudos literários.
Sua influência ainda ecoa e deverá seguir ecoando durante muito tempo. Há marcas de Poe em parte importante da atual literatura latino-americana, por exemplo, uma vertente marcada pela forma como o horror e o fantástico se embrenham na vida cotidiana.
A adaptação de "A Queda da Casa de Usher" que estreou na semana passada na Netflix reforça a vitalidade de Poe. Nessa primeira temporada, a série de oito episódios busca transpor para os nossos dias elementos não só do conto que lhe dá nome, mas também de outros grandes textos do autor, como "O Assassinato da Rua Morgue" e "O Gato Preto".
Poe é uma leitura sempre recomendável e adaptações do tipo ajudam a arejar o nome do autor entre os leitores. Certos empurrõezinhos também fazem bem aos clássicos, como escrevi recentemente. Pensando na série, no entanto, foi uma outra questão que me veio à cabeça.
De cara, lembrei que há poucas semanas escrevi sobre mais uma adaptação da obra da inglesa Agatha Christie, grande nome da literatura policial. Com "A Noite das Bruxas", já são pelo menos quatro transposições de seus romances para o cinema nos últimos anos - temos ainda "Morte no Nilo", "Assassinato no Expresso do Oriente" e "A Casa Torta".
Faz tempo que olho para o que tem rolado nas telonas - e nas telinhas, pensando no streaming - e me surpreendo com a quantidade de filmes e séries que nascem de livros. Pesco "Sandman", baseada na obra monumental de Neil Gaiman, como mais um exemplo, deste vez com origem nos quadrinhos. É um fenômeno que acompanha a própria história da arte audiovisual.
Na última semana participei da Festa Literária da Mantiqueira, na simpática Santo Antônio do Pinhal. Durante o papo me perguntaram sobre o futuro do livro. Para onde vamos? Leitores seguirão existindo? Haverá interesse pelas histórias narradas em contos ou romances? São dúvidas corriqueiras, que nos acompanham há alguns séculos. Ainda que ganhe nuances, crise não é novidade.
Apesar de tudo, principalmente dos percalços comerciais, o livro e a literatura seguem firmes, às vezes encontrando caminhos improváveis para se fortalecer. Ou alguém imaginaria que a a separação entre Sandy e Lucas Lima faria com que as vendas de "A Morte de Ivan Ilítch", de Tolstói, aumentassem em 400%?
Sim, sempre queremos ver os livros chegando a mais gente, fascinando mais pessoas, extrapolando nichos. Mas a literatura seguirá encontrando seus caminhos, seus leitores, enquanto seguir mexendo com a cabeça e os sentimentos humanos a ponto de ser matéria-prima indispensável para outras artes e ter o poder de provocar mudanças profundas no modo como cada leitor encara sua vida.
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