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Natal: que possa enfim o ferro comer a ferrugem, o sim comer o não

É uma época cheia de rituais. Há quem ainda mande cartões para as pessoas mais queridas. Quem não deixe de comprar pelo menos uma lembrancinha para os mais próximos. Quem capriche à mesa. De uns tempos para cá, tem também quem aproveite a data para passar correntes enfadonhas e algumas mentiras temáticas pelo WhatsApp.

Ligo para o Natal mais pela forma como algumas pessoas queridas se importam com a coisa. Mas é se aproximar do dia 25 de dezembro que um poema de João Cabral de Melo Neto volta à cabeça. Conheci os versos passeando por "Poesia Completa", volumaço organizado pelo crítico literário Antonio Carlos Secchin e Edneia R. Ribeiro que reúne a obra do autor de "Morte e Vida Severina". Saiu pela Alfaguara em 2020.

"Cartão de Natal" foi publicado originalmente em "Museu de Tudo", livro de 1975. Compartilhar este poema de João Cabral com vocês talvez esteja se tornando a minha própria tradição natalina. Boas festas a todos!

Cartão de Natal
Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de voo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:
que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem,
o sim comer o não.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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