Ano novo: 10 votos para leitores e editores
1. Apenas 16% dos brasileiros compram livros. É o que aponta a pesquisa Panorama do Consumo de Livros, publicada no final de 2023 (escreverei mais a respeito dela em breve). Há quem compre e não leia e quem leia e não compre, sei disso. Ainda assim, um fator está por trás de diversas crises do setor editoral: nós precisamos de mais leitores. Que venham alguns tantos em 2024.
2. Criar novos leitores é bom para o mercado. Pensando na literatura, no entanto, a ambição precisa ser maior. Sei que o assunto é delicado, vive flertando com discursos arrogantes, pouco simpáticos. Mas formar bons leitores, qualificados para lidar com textos complexos, também precisa ser uma preocupação.
3. A pesquisa Panorama do Consumo de Livros apurou que, independentemente da classe social, as pessoas dizem não gastar dinheiro com isso, principalmente pelo preço dos exemplares. Soa-me como desculpa em parte considerável dos casos. Ainda assim, o setor precisa se preocupar com o valor que o brasileiro tem dado aos livros.
4. Há quem argumente, com razão: o livro é, sim, caro para muitos brasileiros. Não me parece, no entanto, que lutar para baratear um pouco mais o produto (que custa menos no Brasil que em diversos outros países) seja a melhor solução. A briga tem que ser para que o salário mínimo real pelo menos se aproxime do salário mínimo ideal apurado pelo Dieese (hoje, algo em torno de R$ 6.300).
5. Livros preocupados em se explicar demais, com notas para orientar o leitor naquilo que ele deveria entender por conta própria, com pedidos de desculpas por personagens deploráveis... Que escritores voltem (ou passem) a confiar nos seus leitores.
6. E que os leitores, por outro lado, tenham uma compreensão mais abrangente da ficção. Não cabe à literatura se reduzir à mera projeção de um suposto mundo ideal.
7. Não cabe, mas se quiser pode. A literatura pode tudo, não deve nada a ninguém. É um espaço em que a liberdade deve ser preservada.
8. O que não invalida eventuais críticas. Todo tipo de literatura pode ser criticada. E se espera que todos lidem com essas críticas de forma madura, apresentando contra-argumentos, se necessário. Que o melindre fique de fora do ambiente literário.
9. E quem tem a razão num embate qualquer? Depende. Que os leitores saibam valorizar eventuais tensões para colher informações, ponderar argumentos e amadurecer a própria visão sobre determinado assunto.
10. E espero que leiam "A Biblioteca no Fim do Túnel: Um Leitor em Seu Tempo", livro que lancei há alguns meses pela Arquipélago. Críticas estão liberadas, claro. Elogios também são bem-vindos.
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