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Café com azeite e a importância bíblica do óleo de oliva

No café da Livraria Mantiqueira, em Santo Antônio do Pinhal, que encontrei a improvável mistura. Expresso feito com grãos torrados na região misturado com um pouco de azeite local. O óleo é um dos bons produtos que pintam há alguns anos pelas montanhas entre São Paulo e Minas Gerais. Gosto bastante de azeite, amo café. Pedi um para provar.

Não vou dizer que faria em casa, mas gostei de conhecer a fusão que deixa muita gente com cara de poucos amigos. Numa bebida de rara untuosidade, a picância e certa nota de grama do azeite deixou o café com uma pegada peculiar. O amargor de um se deu bem com o amargor do outro.

Azeite é uma comida que tem me atraído cada vez mais. Tem potencial para receber a mesma atenção que dou para a cerveja, o vinho, a cachaça e o próprio café. Enquanto o estudo com mais afinco não chega (por outro lado, fica mais distante com os preços altíssimos), provo o que consigo provar por aí e admiro a sua história. O óleo e a planta que lhe dão origem têm um papel central em muitas culturas.

A árvore encantava, por exemplo, José Saramago. As cinzas do escritor português foram colocadas junto de uma bela oliveira que fica na frente da fundação que leva o seu nome, em Lisboa. Nos últimos meses, lendo a respeito da Palestina, também encontrei em diversos momentos reverências ao óleo e à sua fonte.

Foi para o monte das Oliveiras que Jesus caminhou pouco antes de ser preso. E não é só por isso que a árvore é uma das mais importantes da "Bíblia". Encontro um apanhado de como a planta e o seu óleo aparecem no livro mitológico em "A Mesa de Deus - Os Alimentos da Bíblia", da escritora e pesquisadora gastronômica Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti. Ela revirou o compêndio para anotar todas as referências sobre comidas e bebidas e estudar os hábitos alimentares ali registrados.

No trabalho, publicado pela Record, olha para elementos básicos como o pão, o mel, o sal, o vinho e a água, investiga a relação daqueles homens com os animais - desde os domésticos até os selvagens - e dedica muitas páginas a grãos, especiarias e diferentes tipos de árvores. Maria Lecticia ainda registra a diferença do que era servido nos banquetes dos ricaços e nas mesas simples da maior parte das pessoas.

Separado por verbetes, é sobre o azeite uma das entradas mais longas do livro. Constata a pesquisadora: ter azeite era sinal de grandes posses. O óleo podia ser usado para a iluminação e também era destinado a oferendas. Servia para remediar feridas e, como cosmético, fazia brilhar o rosto e entrava na fórmula dos perfumes dos mais abastados. Também tinha grande importância comercial. Como não poderia deixar de ser, era encontrado à mesa de praticamente todas as casas, onde ficava em grandes cântaros de cerâmica.

Se já conhecessem um bom café, aposto que os colegas bíblicos também misturariam a bebida com azeite. Nem que fosse pela curiosidade de saber no que ia dar.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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