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Opinião

O livro é caro no Brasil ou nós que ganhamos pouco?

Apenas 16% dos brasileiros acima de 18 anos compram livros. No gigantesco universo de gente jovem e adulta que não gastou dinheiro com isso nos últimos 12 meses, a principal alegação é que os livros no país são muito caros. O argumento segue o mesmo padrão em todas as classes sociais. Dos mais ricos aos mais pobres a sensação é a mesma: difícil torrar tanta grana com esses calhamaços.

É o que aponta a pesquisa Panorama do Consumo de Livros, feita pela Nielsen BookData a pedido da Câmara Brasileira do Livro e publicada no final de 2023. Olhando para as prateleiras e vendo uma série de lançamentos beirando - ou extrapolando - os R$ 100, fica fácil de entender de onde vem tal convicção.

Por um lado (o dos mais abonados), o argumento do preço pode soar como desculpa. Por outro, é evidente que para a imensa maioria da população, que precisa se virar como pode para não faltar comida em casa e sobrar algum para o lazer, o valor é mesmo um problema — 85% das pessoas que não compraram volume nenhum nos últimos 12 meses reconhecem a importância da leitura de livros, enquanto para apenas 8% a atividade é desprezível, pouco ou nada relevante.

Os últimos anos não foram afáveis com o mercado editorial. A quebradeira de grandes redes de livrarias, o minguar das compras governamentais e os frequentes reajustes (sempre pra cima) no preço do papel são elementos que ajudam a explicar por que preços seguem subindo. Não pensem que isso vem acompanhado de editores e escritores se tornando milionários. Pelo contrário. O mais comum é ouvir insatisfações de todos os lados do balcão.

O livro ainda é mais barato no Brasil do que em diversos outros lugares. Convertendo os valores para alguma moeda em comum - o dólar, por exemplo -, o que encontramos nas livrarias daqui costuma sair mais em conta do que obras de mesmo perfil em lojas de países como Uruguai, Argentina, Chile, Portugal e Espanha. É a impressão que tive após andanças por esses cantos.

Há pouco tempo, o colega Érico Assis fez um exercício que ajuda a corroborar o que observei em viagens. Cruzando os valores de quadrinhos no Brasil com HQs semelhantes vendidas na França e nos Estados Unidos, percebeu que os preços seguem um valor absoluto próximo em alguns casos e bastante vantajoso aos brasileiros em outros.

Mas há um grande porém: Érico também calculou quanto que o valor dos quadrinhos custa em termos de horas trabalhadas para brasileiros, franceses e estadunidenses. É aí que a coisa aperta de forma dramática. Precisamos trabalhar muito, mas muito mais do que os outros para comprar algo que, em muitos casos, custa menos para gente do que para eles. A triste lógica serve para todo o mercado editorial.

Livros poderiam ser mais baratos no Brasil? Seria ótimo. Mas como fazê-lo? Mais isenção de impostos? Apertar a margem de editorias que passam o ano brigando para fechar no azul, principalmente as pequenas? Minguar ainda mais a remuneração de profissionais que já sofrem para conseguir trabalhos razoáveis? Apostar na venda direta e tirar as livrarias da jogada, o que contribuiria para a desertificação intelectual num médio prazo?

O livro não é absolutamente caro, não é esse o maior problema. O grande problema é quanto que a compra de um livro pode pesar nas contas da imensa maioria dos brasileiros. Me parece que o melhor não é brigar por uma solução focada no setor, mas em algo muito mais amplo.

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Em 2024, o salário mínimo é de R$ 1.412. Já o salário-mínimo ideal apurado pelo Dieese em dezembro do ano passado foi de R$ 6.440. É essa grana que o brasileiro precisa para suprir as necessidades de uma família de quatro pessoas. A partir desse valor, inimaginável para tantos, que dá para pensar em gastar com livros com alguma tranquilidade.

Precisamos é ganhar mais pelos trabalhos que prestamos, isso sim.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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