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Opinião

O Museu de Arte Proibida e as 'melhores intenções' por trás da censura

Uma geladeira de refrigerantes servindo de caixão para o ditador Francisco Franco. Sadam Hussein com as mãos amarradas e paralisado no fundo do mar. Um Mao Tsé-Tung com lábios rosados e aparência pop. Ronald Mc Donald's fazendo as vezes de Jesus Cristo numa cruz. Zapata, revolucionário mexicano, nu, de chapéu rosa e sapatos de salto alto montado num cavalo branco com o pênis ereto.

São obras de arte feitas, respectivamente, pelo espanhol Eugenio Merino em 2012, pelo tcheco David Cerny em 2005, pelo estadunidense Andy Warhol em 1972, pela finlandesa Jani Leinonen em 2015 e pelo mexicano Fabián Cháirez em 2014. O que há em comum entre elas? Todas foram atacadas e de alguma forma censuradas em diferentes partes do mundo: Israel, México, Bélgica, China, Espanha...

Essas são algumas das mais de 200 peças reunidas no Museu de Arte Proibida, inaugurado em outubro do ano passado em Barcelona. Passear pelo lugar é uma oportunidade para constatar como a sanha por regular o que pode ou não chegar ao público é uma praga da qual nunca nos livramos. Merece atenção os quadros pintados por presos de Guantánamo. Após uma exposição em Nova York, o governo dos Estados Unidos, "terra da liberdade", proibiu a saída de qualquer obra feita no presídio.

O museu é um casarão cheio de representações que em algum momento foram atacadas por grupos civis ou governos de diferentes ideologias. Não surpreende que dominem o espaço pinturas, esculturas, fotografias, instalações e vídeos com alusões políticas, religiosas ou sexuais. A maior parte das obras data dos séculos 20 e 21, mas há peças censuradas mais antigas.

Exemplo são as preciosidades da série Caprichos, parte da produção mais interessante de Francisco de Goya. Foram feitas entre 1797 e 1799, enquanto o artista não estava fazendo quadros um tanto enfadonhos para agradar a realeza espanhola. Goya desistiu de vender essas gravuras com medo de ser perseguido pela Inquisição.

Trabalhos do austríaco Gustav Klimt, do misterioso grafiteiro Bansky, do chinês Ai Weiwei, da cubana Tania Bruguera e de Pablo Picasso, um dos maiores nomes da arte no século 20, também fazem parte do acervo. Do autor de Guernica, encontramos uma sequência de desenhos orgiásticos que apavoraram integrantes da igreja ortodoxa russa em 2012.

Certas obras que integram a coleção do Museu da Arte Proibida causam incômodo? Claro, muitas foram pensadas para isso. Um ficará ofendido com algo que afronta sua fé. Outro, com uma cutucada que abala a convicção política. Que cada um lide com seus desconfortos, com os choques com as próprias crenças. Críticas são válidas. Criticar, porém, é bastante diferente de querer ditar o que merece ou não existir.

Estamos cercados de gente que quer estipular o que os outros devem ou não ver, podem ou não consumir, estão liberados ou não para pensar. Nesse momento, é prudente lembrarmos de como em outras oportunidades — algumas distantes, outras coladas ao nosso presente — a convicção de que algo não deveria ser levado ao público resultou em silenciamentos ridículos, sempre truculentos. E sempre justificados com as melhores das intenções.

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