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Opinião

Com Borges e Proust, Papa Francisco recomenda: Leia literatura!

"Quando se lê uma história, graças à visão do autor, cada um imagina, à sua maneira, o choro de uma jovem abandonada, a idosa que cobre o corpo do neto adormecido, a paixão de um pequeno empreendedor que tenta ir para diante apesar das dificuldades, a humilhação de alguém que se sente criticado por todos, o rapaz que encontra no sonho a única saída para a dor de uma vida miserável e violenta", escreve.

E, ciente do poder que histórias escritas têm de nos aproximar de experiências alheias, continua: "Mergulhamos na existência concreta e interior do vendedor de fruta, da prostituta, da criança que cresce sem pais, da mulher do pedreiro, da idosa que ainda acredita que vai encontrar o seu príncipe".

Enfatiza que a leitura literária nos faz sentir vestígios de nosso íntimo e nos sensibiliza para as experiências vivenciadas por outras pessoas. Faz com quem saíamos de nossas profundezas para compreender outras lutas e desejos, vislumbrar a realidade com outros olhos.

Quem constrói essa enfática defesa da leitura dos textos literários é o Papa Francisco. Há alguns dias, o líder religiosos publicou uma longa carta sobre o papel da literatura na educação. Escrevia para os seus, mas deixou uma mensagem que extrapola dogmas e misticismos.

Na carta, Francisco dialoga com autores como T.S. Eliot, Proust, C. S. Lewis e Jorge Luis Borges, seu conterrâneo, para afirmar como a prosa e a poesia são fundamentais para o amadurecimento de qualquer sujeito. Nos tempos de professor, em meados dos anos 1960, recorda, notou como a leitura precisava ser sobretudo um ato de prazer. Pois se os alunos queriam ler García Lorca, que as aulas fossem dedicadas ao poeta.

Pelas palavras notamos quanto Francisco valoriza a literatura como melhor caminho para entrar em contato com diferentes culturas de diferentes épocas. Mas não só.

Também chama a atenção para a importância da forma. Da linguagem livre, em movimento, aberta para múltiplas interpretações. Isso faz da arte "uma espécie de ginásio de discernimento, que aguça as capacidades sapienciais de escrutínio interior e exterior" - sim, às vezes a coisa fica empolada.

Uma forma de arte que, diferente de outras tantas, exige um interlocutor ativo para elaborar a história contada e complementá-la com as próprias referências. A leitura como um jeito sereno e livre para deixar de lado a tela do celular e as "venenosas, superficiais e violentas fake news".

O livro como um oásis nos momentos de tédio ou solidão. Um camarada que ajuda a contornar o cansaço, a desilusão, os fracassos. Um aliado capaz de proporcionar um sossego para a alma que, vejam só o que ele diz, nem a oração é capaz de oferecer.

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É longo o desfile de elogios e virtudes que Francisco faz à literatura. Reforça, inclusive, a importância de se recusar os dogmatismos - algo que cai bem estendermos para a religião institucionalizada e para a própria Bíblia, um texto, afinal, literário:

"Uma obra literária é um texto vivo e sempre fértil, capaz de falar de novo e de muitas maneiras, capaz de produzir uma síntese original com cada leitor que encontra. Este, enquanto lê, enriquece-se com o que recebe do autor, mas isso permite-lhe, ao mesmo tempo, fazer desabrochar a riqueza da sua própria pessoa, pois cada nova obra que lê renova e expande o seu universo pessoal".

A literatura não ser vista como essencial não traz boas perspectivas, sublinha o Papa em sua carta pela leitura. É essa, crê, a origem de uma "forma grave de empobrecimento intelectual e espiritual": a privação de um acesso privilegiado "ao coração da cultura humana e, mais especificamente, ao coração do ser humano".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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