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Opinião

Roseana Murray: Imaginação para reinventar a vida após perder o braço

Em abril, uma notícia abalou leitores de todo o país. Roseana Murray, reconhecida pela obra voltada às crianças, tinha sido atacada por três pitbulls enquanto caminhava por Saquarema, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro.

Foi bastante feio. Os cachorros dilaceraram parte do rosto e o braço direito da escritora, que precisou ser amputado. Apesar do susto, do choque e da tristeza, aos poucos Roseana começou a se recuperar.

Quando a escritora voltou a se comunicar com o público, muitas vezes pelas redes sociais, causou nova surpresa. Roseana passou a ser admirada pela forma como vinha lidando com a própria tragédia.

Ainda internada, defendia a busca da beleza mesmo nos piores cenários, escrevia poemas e vislumbrava saraus. Explicitava: havia um futuro para ser planejado, uma nova história para traçar.

Deixou o hospital pensando na vida que teria pela frente. Se não tinha mais um braço, paciência, aprenderia a viver se adaptando à nova condição. "Vou ser aluna de novo", dizia. E não tardou para que colocasse no papel uma das ideias que teve ainda internada no centro de tratamento intensivo.

O que aconteceu consigo inspirou o livro "O Braço Mágico", que acaba de chegar aos leitores pela Estrela Cultural com ilustrações de Fernando Zenshô. É uma espécie de resposta literária de Roseana ao que viveu nesses últimos meses. Também um afago a seus netos, Luís e Gabi.

Na história, o leitor é apresentado a uma avó poeta dona de um braço invisível e mágico, capaz de alcançar o horizonte e de mergulhar no oceano para fazer cafuné em cavalos-marinhos. Um artifício precioso, também pode usado para acarinhar e levar alegria a qualquer criança que esteja triste.

Nem sempre essa avó foi assim. Um acidente provocou a perda também na ficção. O dano só não foi maior graças aos médicos e bombeiros que lhe salvaram, auxiliados por "aranhas douradas, ajudantes de fadas cuidadosas e magos formidáveis". Todos se juntaram à família na hora do socorro.

Dois dos agradecimentos do livro chamam a atenção. Um deles é para Eduardo, "o primeiro anjo", maratonista que acudiu Roseana enquanto ela era atacada pelos cães.

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O outro é para o Hospital Estadual Alberto Torres, do SUS, "que salvou minha vida". Teve gente que torceu a cara quando a família reconheceu a importância do sistema público de saúde para que a autora sobrevivesse.

A lucidez e a força que a escritora demonstrou enquanto passava pelos piores momentos de sua tragédia particular estão presentes em "O Abraço Mágico". Roseana denota compreensão e discernimento ao lidar com a transformação pela qual a sua vida passou. Acima disso, contudo, o livro é uma celebração ao poder da imaginação.

Com sua literatura, a escritora reforça quão importante pode ser o pensamento lúdico e criativo para encarar os piores momentos. Explicita a força que a fabulação pode ter sobre nossas próprias vidas. Essa capacidade que podemos ter de criar histórias sobre a gente e para a gente. Pensarmos na melhor versão de nós mesmos, apesar de rasteiras que a vida nos dá.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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