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Tempo livre? Nº de leitores despenca, e Brasil tem menor índice em 23 anos

De 2019 para 2024, o número de leitores no Brasil caiu de 100,1 para 93,4 milhões. O tombo fica ainda mais feio se notarmos que em 2015 éramos 104,7 milhões.

Em uma década, o Brasil deixou de ser um lugar onde 56% da população poderia ser considerada leitora e virou um país onde 53% dos habitantes não são leitores. A chave quase inverte.

Nós, leitores, somos 6,7 milhões a menos do que na apuração passada e 11,3 milhões a menos do que na retrasada, apesar do crescimento populacional do país. Isso de acordo com a 6ª edição da Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, pesquisa fundamental para o setor cuja nova edição acaba de ser divulgada.

O que é um leitor?

Segundo os parâmetros da pesquisa, qualquer pessoa que tenha lido um livro nos três meses anteriores à apuração. Não importa formato, gênero nem se leu o livro inteiro ou apenas uma parte dele. Isso basta para que alguém seja, de fato, leitor? É uma boa discussão. Esta coluna aqui segue válida para quem quer saber um pouco do que penso.

Se a pesquisa considerasse leitor apenas quem respondeu ler um livro inteiro nos últimos três meses, o que é ruim ficaria drasticamente pior. O número de leitores brasileiros despencaria de 47% para 27% da população —o que se aproxima mais das impressões que tenho no dia a dia.

Tudo cai. Os entrevistados leram em média 2,04 livros nos três meses anteriores à pesquisa, dado que era de 2,6 títulos na última edição. Ao longo de um ano, a quantidade de livros lidos pelos brasileiros diminuiu de 4,95 para 3,96. Nunca lemos tão pouco desde que a Retratos da Leitura começou a ser feita, em 2001.

Tem mais quedas. Eram 54,2 milhões de leitoras em 2019, hoje são 50,4. Eram 45,9 milhões de leitores do gênero masculino, hoje são 42,9 milhões.

O ambiente escolar deixa de ser um espaço onde crianças e jovens costumam ler livros: 35% liam na escola em 2007, passou para 23% em 2019 e agora chega a 19%.

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A escola pesa cada vez menos na hora de alguém escolher o que ler. Apenas 4% dos entrevistados estavam lendo alguma coisa por indicação escolar, percentual que era de 10% em 2019 e de 25% em 2011.

Na outra ponta da vida, o pessoal com mais de 70 anos foi a única faixa etária em que houve um aumento na quantidade de leitores: de 26% em 2019 para 32%.

E as pessoas estão se sentido mais à vontade para assumir que simplesmente não curtem se embrenhar pelos livros. Mais gente afirmou não gostar de ler (29% —era 22% há cinco anos) do que gostar muito de ler (26% —era 31% há cinco anos).

Dentre as apurações feitas pela Retratos da Leitura, uma me soa interessantíssima.

A pesquisa pergunta o que as pessoas gostam de fazer em seu tempo livre. As opções oferecidas são muitas: diferentes formas de usar a internet ou mexer no celular, escutar música, ver televisão, assistir a filmes, estar com os amigos e a família, escrever, praticar esportes, passear, ir pro bar, jogar videogame, pintar, dormir, descansar...

Leitores, em média, mencionam 7,6 atividades no tempo livre, enquanto quem não lê cita 5,3.

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Quem lê pratica mais as atividades além da leitura —a única exceção é assistir à TV, e há empate em não fazer nada, dormir ou descansar. Leitores têm uma vida muito mais diversa —e diversa em vários sentidos, da cultura ao esporte— do que quem vive apartado dos livros.

Arrisco dizer: quem lê curte mais a vida.

No entanto, emerge uma pergunta. Leitores são assim porque leem ou, por terem mais tempo para fazer diversas atividades, também conseguem se dedicar aos livros? Daí a conclusão toma outro caminho: ter tempo para curtir a vida é essencial para que alguém se torne leitor.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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