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Tieta do Agreste: como o livro nasceu forjado para ser um grande sucesso

Adaptado para o cinema e transformado em novela que agora volta à televisão no Vale a Pena Ver de Novo, "Tieta do Agreste" é um romance que nasceu forjado para fazer enorme sucesso entre os leitores.

Na história, Tieta regressa a Santana do Agreste, onde era uma simples cuidadora de cabras e de onde havia sido expulsa pelo pai na juventude por conta de seus amores. Retorna aos 26 anos, enriquecida e poderosa, numa reviravolta contada com grande proximidade entre narrador e leitor.

Jorge começou a escrever a história enquanto vivia em Londres. Acordava cedo para trabalhar no texto. Fazia dois turnos: um das 6h às 13h30 e outro das 17h às 19h.

Ricardo (Cássio Gabus Mendes) e Tieta (Betty Faria) em 'Tieta'
Ricardo (Cássio Gabus Mendes) e Tieta (Betty Faria) em 'Tieta' Imagem: Divulgação/Globo

Enquanto isso, Zélia Gattai, também escritora, esposa e sua grande parceira de vida, cuidava das muitas correspondências, da casa e de preparar boas comidas para Jorge. Dizia que o escritor, enquanto criava, precisava de todo tipo de carinho.

O ritmo do texto foi uma das questões com as quais Jorge teve que lidar, conta Josélia Aguiar em "Jorge Amado - Uma Biografia" (Todavia), de onde pesco as informações. Como a história se passava numa cidade pequena, o autor pensou numa cadência mais morosa. Teve, contudo, que acertar a mão para que a coisa não ficasse vagarosa, perigando que o romance tomasse proporções bíblicas.

De cara, não estava nos planos de Jorge escrever mais uma história com protagonista feminina. Mas eram tempos bicudos para o mercado editorial, então decidiu entregar para a sua nova casa, a Record, um livro que, tinha certeza, faria enorme sucesso com o público.

Assim, Tieta nasceu para fazer par a outras grandes mulheres de Jorge Amado: Gabriela (de cravo e canela), Dona Flor (a dos dois maridos) e Tereza Batista (a cansada de guerra).

A preocupação com o meio ambiente, que passou a preocupar Jorge depois que o escritor ouviu de um político o papo de ser impossível progredir sem poluir, seria uma das camadas da narrativa.

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Cuidou para que a questão estivesse bem integrada ao texto, sem soar artificial. "A poluição entraria aos poucos, de leve no começo, tornando-se elemento central da metade do livro em diante", analisa Josélia.

Quando enfim saiu, em outubro de 1977, uma ousada campanha de marketing fez parte de seu lançamento. Pela primeira vez na literatura brasileira, conta a biógrafa, um monomotor sobrevoava as praias do Rio de Janeiro para anunciar um livro.

Antes disso, Jorge havia publicado em revistas e jornais diversos trechos da história para criar um buchicho entre os leitores sobre o que encontrariam em "Tieta do Agreste".

A aposta da editora era alta e contrasta drasticamente com o que temos hoje no mercado. De cara, imprimiram cem mil exemplares e já deixaram engatilhadas outras duas tiragens de 50 mil cada. Numa entrevista, Sérgio Machado, então editor e dono da Record, disse que o livro era um produto tão comercial quanto sabonete.

Quase ao mesmo tempo, Tieta começou a transpor nossas fronteiras, conta Josélia. "Em dezembro, circularia nos Estados Unidos a edição da Knopf, com tradução de Barbara Shelby. Machado se encarregava de renovar contratos em outros países ocidentais, novas edições no exterior estariam a caminho, títulos saíam no formato de bolso e integravam clubes de livro. Era best-seller internacional."

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