Silva, o single "Passou Passou" e a adorável leveza do desamor tragicômico
Sem tempo? Vem cá
- Silva prepara um novo disco, dois anos depois de 'Brasileiro'
- E ele soltou hoje o primeiro single, de nome "Passou Passou"
- O clipe, que saiu também nesta quinta, é um plano-sequência
- Essa música é um ska, gênero que o Silva disse sempre quis experimentar na carreira
- A faixa também mostra como Silva está mais à vontade a própria voz
- Nessa entrevista, ele também dá spoilers do novo disco, que chega ainda em 2020
"Não vai adiantar você rezar, rezar. Eu já falei: 'passou, passou'". Silva, com leveza da levada de ska, canta que o amor passou. E o faz de forma tão vaporosa que, quando você percebe, passou, mesmo.
Esse é o single "Passou Passou", novíssimo single do capixaba Lúcio Silva, lançado nesta quinta-feira, 29, com clipe gravado em plano-sequência, que também pode ser assistido abaixo:
O clipe acima foi gravado em plano-sequência (quando não há cortes) no interior de São Paulo, na cidade de São Pedro. O vídeo tem roteiro e direção de Rafael Câmara e produção da Triatoma.
Em entrevista exclusiva à coluna, Silva abre o coraçãozinho leve como uma pluma depois de uma fossa - metaforicamente falando, eu acho. "Passou Passou" é a primeira música daquele que será o quinto álbum de estúdio do artista, 10º no total.
A voz de Silva
E, se você deu play no clipe acima (ou ouviu a música nas plataformas digitais), percebeu que a voz do Silva está diferente aqui. Estamos em 2020 (sim, esse ano enlouquecedor e claustrofóbico), oito anos se passaram desde "Claridão", o disco de estreia de Silva, de 2012.
Saca só a diferença de "Passou Passou" pra "Moletom", hit do primeiro álbum:
Claro, muito muda em oito anos. Mas, por enquanto, estou falando da voz de Silva - logo mais trataremos da vibe de ska da faixa.
"A voz tem sido, para mim, o meu instrumento principal", conta Silva. "Não que eu não encarasse a voz cmoo algo importante, mas, acho, sempre fui mais preocupado com a produção, com os arranjos, com a parte musical dos instrumentos."
A pergunta era se Silva percebia essa mudança, também, fosse ela consciente ou inconscientemente. Afinal, em outro single dele de 2020, uma versão de "A Coisa Mais Linda Que Existe", de Gilberto Gil, mostrava isso também.
"De um tempo para cá, comecei a descobrir na minha voz o instrumento que eu talvez mais goste hoje. Mais do que violão, piano, mais do que tudo. Aprendi a gostar do que eu tenho como voz e com a experiência de ter feito vários discos, com a experiência de palco, tudo foi mudando"
Silva, em entrevista à coluna
Silva conseguiu/aprendeu, a colocar a voz mais para fora, como ele mesmo diz. "Tudo isso contribuiu para que eu gravasse melhor. Comecei a fazer gravações com mais maturidade, também."
Fim da fossa?
Quase isso. O que Silva canta nessa faixa é o sentimento pós-fossa. Não existe o post-punk? Silva criou um ska-post-fossa. Uma canção tragicômica. De alívio pelo sentimento ruim de um término ter, enfim, passado.
"É uma música que representa um momento de pós-dor. Todo mundo, quando termina uma relação, sente dor. Os dois lados, seja quem terminou seja quem foi deixado."
E, por isso, "Passou Passou" é quando a ferida já cicatrizou. "Quando você começa a olhar para aquilo [o relacionamento, a fossa, a dor da perda] de uma forma mais sarcástica. Você pensa: 'Não acredito que sofri tanto por isso'."
"É um sentimento libertador. Quando a gente olha para trás e pensa: 'Ufa, passou'."
E é, mesmo.
Inspirado pelo ska que tocava nas rádios nos anos 90
"Quando eu era criança, a música brasileira tinha muita influência de ska", recorda Silva. Jovenzinho, o Lúcio ouvia rádio e gravava as músicas favoritas em fitas cassetes (uma difícil e longa arte de montagem que quem tem menos de 30 anos certamente não conhece).
Daqueles anos 90, Silva cita Os Paralamas do Sucesso e Skank. De fato, o pop brasileiro encontrou no ska uma forma de subverter as fórmulas do post-punk, new wave e tudo mais. Enquanto o rock gringo se deliciava com a chegada do grunge e o com o último suspiro do hard rock, o Brasil abraçava o ska, o reggae e o rocksteady nas rádios.
"Era um som que eu sempre quis fazer, mas ainda não tinha experimentado tocar algo assim, colocar no meu disco. Comecei a experimentar algumas cosias ao vivo, colocar uma pitada de ska, sabe?"
Ska de Silva, "Passou Passou" não tem guitarra e são os sopros que produzem a cavalgada típica do som do gênero de origem jamaicana.
E o novo disco, Silva?
O próximo álbum de estúdio, sucessor de "Brasileiro", de 2018, será lançado ainda em 2020.
Silva deu spoilers sobre o novo trampo. Se quiser total surpresa, pule para o próximo tópico, de título "Silva, o radialista":
- O álbum será gravado de forma analógica: "Não quis usar nada digital"
- Foi um trabalho intenso, com muitas horas de gravação
- Será um disco com "gêneros de música tocada", como Silva diz
- Isso significa que teremos ska, reggae, samba e R&B também
- Será um álbum que fala muito sobre amor, garante ele
- "Eu adoro cantar o amor", explica Silva.
- Ele pontua que amor estará presente como em "Passou Passou", mas "também terá outras formas de dizer isso"
"Um álbum que passeia por todas essas coisas que se comunicam. São gêneros com os quais a música brasileira combina. Existe essa comunicação aí, que é subjetiva, mas são coisas que se dão bem."
Silva, o radialista
Bom, é quase isso (risos). Acontece que Silva também estreou a Rádio Silva, dentro do canal dele de YouTube.
Ali, a proposta é criar uma programação musical de uma hora de duração com DJs e artistas convidados. O primeiro episódio da Rádio Silva é dedicado ao rocksteady e ao ska, de movimentos musicais pré-criação do reggae, com a participação do Feminine Hi-Fi.
O que se comunica diretamente com a linguagem de "Passou Passou". E isso é proposital, meus caros "Silvers" (criei um nome de gosto duvidoso para o fandom do Silva, peço perdão de antemão).
"Moro numa cidade de praia, né? Então, sempre que dá, eu gosto de ouvir esse tipo de música. Deixa meu humor feliz e equilibrado. Antes do show, eu coloco o som alto no camarim. Acho difícil ouvir um reggae que te deixa triste - existem alguns, eu sei, tenho alguns que me deixam assim - mas é uma música solar"
Para Silva, é um som que "tem um timbre maldosinho, sabe?", ele diz. "Gosto muito disso."
Você pode ouvir a programação completa do primeiro episódio da Rádio Silva abaixo:
Quem segue o Silva nas redes sociais, aliás, já viu que ele costuma compartilhar um ou outro som. "Geralmente, compartilho o que estou sentindo no momento. A música rege muito o meu humor e o meu estado de espírito."
Teria Silva, desde a infância, uma vontade de ser radialista?
"Nunca pensei porque sempre tive um pouco de pavor de falar. Nunca fui um cara de falar. Sempre gostei de cantar. Cantar é o jeito de me comunicar que eu gosto. Claro, hoje tenho 32 anos, gosto da minha voz, já vendi isso, mas a rádio sempre foi importante para mim."
A maturidade, a voz e a leveza
O que nos faz voltar ao início da entrevista, quando Silva contava sobre a voz ser, atualmente, o instrumento musical favorito dele.
Foram, afinal, anos de treino, inclusive, em discos com repertório próprio, registros de shows e projetos com canções de outros artistas, caso do projeto lindíssimo "Silva Canta Marisa", álbum lançado em 2016 e transformado também em "disco ao vivo" no ano seguinte.
"Sempre tentei respeitar o meu tempo das coisas, sabe? Quando comecei, no 'Claridão', tinha 22 anos, 23, anos. Sempre me permitir mudar. É uma coisa que insisto. Acho que acontece por me sentir entediado. Nunca gostei de repetir, repetir, repetir."
A evolução de Silva como artista é, de fato, notória. Ele está em expansão.
"Fui perdendo a timidez, achando a minha voz, achar o meu timbre. Foi uma longa construção", diz Silva, que segue:
"E eu continuo em construção. Prefiro ser assim. Sempre mudar, de alguma forma. Algo que seja natural, bem orgânico. Espero que consiga continuar assim."
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