Ex-Sex Pistols, John Lydon virou o tiozão com quem a gente briga no Natal
Sem tempo?
- John Lydon se tornou conhecido como Johnny Rotten, da banda punk Sex Pistols, certo?
- Ele tem dito que é eleitor de Donald Trump, já que é cidadão dos EUA desde 2013
- Ele diz estar cansado do discurso dos democratas e que Trump fala a língua do povo
- Lydon é a representação do tio com quem brigamos no Natal?
John Lydon, ou conhecido como Johnny Rotten nos tempos de Sex Pistols, esbravejou mais uma vez na TV norte-americana sobre a eleição de Donald Trump. Sim, o anarquista que ajudou a sedimentar o punk com o álbum "Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols", de 1977, é um eleitor de Trump.
Cidadão norte-americano desde 2013, Lydon é uma das muitas figuras contraditórias da música. Cantou o hino "God Save the Queen", na qual criticava o "regime fascista" da Rainha, pediu pela anarquia no Reino Unido em "Anarchy in the UK".
E também usa uma camiseta do movimento "Make America Great Again", do equívoco histórico chamado Donald Trump.
Dessa vez, além de defender o atual presidente dos EUA, Lydon também gritou com Susanna Reid, a apresentadora do programa "Good Morning Britain", ontem (4).
O vídeo abaixo é o puro suco da visão política de Lydon sobre Trump e a eleição norte-americana na disputa presidencial entre o atual presidente (do Partido Republicano) e Joe Biden (do Partido Democrata), ex-vice-presidente do governo Obama.
O grito de Lydon começa no 1'36'', quando Susanna tenta emendar uma pergunta durante o discurso inicial do ex-punk.
Entre as perigosas abobrinhas ditas por Lydon, ele cita ter vindo da classe trabalhadora na Inglaterra e está desgostoso do "papo mole" dos liberais. Se aqui, a direita chama o lado oposto de "pão com mortadela" ou "esquerda festiva" ou ainda "esquerda caviar", lá nos EUA, Lydon diz que os democratas como Joe Binden e Hilary Clinton são "socialistas de champanhe".
Podem rir um pouco agora.
O papo, contudo, é sério. Lydon realmente acredita que Trump é "a "única esperança". Nem em uma galáxia muito distante, como a criada por George Lucas em "Star Wars", a esperança esteve tão mal representada. Nos filmes, o jovem Luke Skywalker é o responsável por libertar a galáxia do império de Palpatine e Darth Vader.
Seria Trump o Luke Skywalker dessa fanfic de Lyndon?
A existência de posições políticas distintas é ótima. Isso se chama democracia, aliás. O que Trump representa, nos EUA, contudo, vai além de política. É um retrocesso cultural e social. O que já era perigoso ficou ainda mais quando a Covid-19 se espalhou pelo mundo.
Trump foi um desses que tratou a pandemia como uma gripezinha. Vocês sabem quem é o outro, né? E isso é massacre em massa.
Outra coincidência entre os pensamentos de Lydon e atual presidente brasileiro é a crítica à imprensa.
"Você o chama de narcisista, você pode chamá-lo de nojento mas ele é a única esperança",
John Lydon, em entrevista ao "Good Morning Britain".
Lydon passa um pano como ninguém para os absurdos de Trump como presidente - e antes disso. E aí está o perigo, não é?
Contra casamento civil gay
O ex-Sex Pistols tem uma língua afiada e corta para os lados mais liberais e lados mais conservadores. Ele disse, certa vez, que:
"Não gosto da ideia de famílias com apenas um pai ou mãe. É pesado para a criança. Elas crescem sentindo a falta de algo. Acho o mesmo para casamentos de pessoas do mesmo sexo. Falta algo. Existe um motivo para existir um homem e uma mulher - e, para o desenvolvimento da criança, é importante a existência desses dois aspectos."
Lydon, em entrevista à BBC, em 2005
Ao mesmo tempo, Lydon já se proclamou um "pacifista" fã de Mahatma Gandhi, o que é, no mínimo, contraditório.
Tio com quem a gente briga na ceia de Natal
O ex-Sex Pistol se aproxima daquele parente (aqui personificado em um tio, mas você sabe que pode ser qualquer familiar com quem você precisa dividir a mesa ou um grupo de WhatsApp) que grita suas ideias retrógradas, não escuta ninguém e ainda bate na mesa quando alguém tenta contra-argumentar.
É alguém que já curtiu a vida bastante na adolescência e juventude (no caso de Lydon, criou a banda punk sensação do Reino Unido a partir da jogada de marketing genial de Malcolm McLaren), mas que chega à meia-idade ou aos 60 anos, com ideias retrógradas e conservadoras. A gente briga, discute, tenta apresentar os argumentos para mostrar que tais absurdos são, afinal, absurdos, mas não tem muito jeito.
Ainda há resquícios de pensamentos modernos ali (como quando Lydon criticou a saída do Reino Unido da União Europeia, por exemplo), mas a balança ainda pede para o lado que prefere alguém como Donald Trump, por "falar a língua do povo", em vez de pensar no próprio povo.
É um clássico caso de conservador que mora numa mansão em Los Angeles (estado liberal dos EUA, aliás). Lydon esbraveja contra um sistema como era quando cantava nos Pistols. Na época, ele vinha de baixo, atacava quem estava em cima. Dessa vez, os alvos podem ser aqueles que mais precisam.
É 'pavê' ou "pra comer"?
Diferentemente do tio com quem a gente é minimamente obrigado a conviver em datas festivas e, para evitar uma crise na família, manter desbloqueado no WhatsApp, Lydon é facilmente ignorável. É só deixá-lo para trás, no lugar da memória afetiva de ouvir Sex Pistols quando adolescente e curtir aquela barulheira.
Só não me venham com o discurso de não misturar música e política. Estamos falando de John Lydon e Sex Pistols. A política aqui está liberadíssima.
Lyndon se junta ao time já formado por Morrissey e Noel Gallagher, por exemplo, que já gastaram a cota de bobagens perigosas ditas por aí.
(Aliás, essa é uma ótima ideia de post para o futuro.)
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.