A história por trás do hit: Black Alien, 'Carta Pra Amy'
Sem tempo?
- No dia 11/11, às 11h, o Black Alien soltou o clipe de "Carta Pra Amy"
- A música, uma das queridinhas dos fãs nos shows, é a terceira faixa do álbum "Abaixo de Zero: Hello Hell" a ganhar clipe
- Aliás, "Abaixo de Zero: Hello Hell" foi eleito o melhor disco do ano pelo Prêmio Multishow e pela APCA em 2019
- O vídeo, dirigido por Gabi Jacob, alterna cenas com o próprio Black Alien e com o ator André Ramiro
- "Eu fui o protagonista dessa cena por anos a fio", diz o rapper sobre os versos iniciais da música
- Aqui, você conhece a 'história por trás do hit' de Black Alien em um papo aberto e franco sobre a faixa
Na semana passada, na quarta-feira (11), Black Alien soltou o terceiro clipe do álbum "Abaixo de Zero: Hello Hell", premiado pelo Prêmio Multishow de 2019 e pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como o melhor disco daquele ano.
Veio esse vídeo de "Carta Pra Amy", um petardo. Dirigido por Gabi Jacob e com produção da Dois Mais Filmes, o trabalho se alterna entre cenas de Gustavo, o Black Alien, e o ator André Ramiro.
Ali, Black Alien narra (como o faz nos versos de "Carta Pra Amy") a luta contra o fantasma do vício. É a batalha pela sobriedade que se apresenta nas mais diferentes fases. Difícil, dolorosa, delirante.
André Ramiro, que você já viu em diferentes trabalhos na TV e cinema, de "Tropa de Elite" a "Sob Pressão", está assustadoramente tocante.
Como é toda a narrativa criada por Black Alien no álbum produzido pelo beatmaker Papatinho, em uma conversa visceral e aberta com Amy Winehouse, cantora que morreu em 23 de julho de 2011.
Antes de seguir, vamos ao clipe?
"Carta Pra Amy" é um grito de vitória, sem esquecer da luta. É a terceira música mais ouvida do álbum de 2019, atrás de "Vai Baby" e "Que Nem o Meu Cachorro", o que mostra a força da canção.
Nos shows, o refrão de "Carta Pra Amy" era poderoso.
Black Alien inaugura uma nova seção aqui na coluna, a série "A História Por Trás do Hit", na qual o artista é convidado a trocar uma ideia sobre a criação, dos primeiros versos, ideias iniciais, até a gravação e o significado da canção.
Aqui, Black Alien nos convida para dentro da própria cabeça e apresenta "Carta Pra Amy" de maneira devastadora honesta. Das referências a Bob Marley e MC Adikto até ao figurino escolhido para o clipe.
Bem-vindos ao papo franco com Black Alien sobre "Carta Pra Amy":
Em que momento ou contexto do "Abaixo de Zero: Hello Hell" surgiu a ideia ou os primeiros versos de "Carta Pra Amy"? Existem trechos guardados há muito tempo ou é tudo "fresquinho", criado já durante o processo do álbum?
"Carta pra Amy" foi a primeira letra do disco que escrevi, em meados de 2018. Era um momento de pouquíssimos shows e de crise criativa. Estava angustiado com essa "falta de futuro". Então, peguei um caderno, beats selecionados dos meus beatmakers preferidos, e fui passar uns dias no home studio de um amigo.
Um belo dia "Carta Pra Amy" veio. O primeiro verso é um brainstorm, o segundo já tem algumas anotações pré-existentes. Não mudei uma vírgula quando entrei em estúdio pra fazer o disco, de fato, em novembro daquele ano. O refrão veio em 2019.
Bom, "Carta Pra Amy" abre com essa estrofe poderosíssima, que vou colocar aqui:
"Lá vai o maltrapilho bem vestido, mulambo perfumado /
Faz mais um furo no cinto, faz mais sentido /
Fluindo no instinto, magro e drogado /
Listen to the lesson: lição sem vinho tinto, mil grau /
Sessenta e blau o grau alcoólico do absinto /
Cheiro de flor boa no recinto e tal"
Black Alien em "Carta Pra Amy"
A pergunta é: que cena você estava imaginando para abrir essa música? E qual é o impacto que ela causa?
Eu fui o protagonista dessa cena por anos a fio. Para quem não estava nem aí, o impacto dessa cena era zero. Era triste pras poucas pessoas que gostavam de mim e altamente satisfatório para quem não gostava de mim. E, nesse último, descortinaram-se mágoa e ressentimento que me surpreenderam. Não tinha conhecimento disso e do tamanho da profundidade.
Pelo título da música, a gente entende que se trata de uma conversa com Amy Winehouse. O que essa música representa nesse sentido? É algo que você gostaria de falar pra ela?
Eu tô falando pra ela. Assim mesmo, no presente. É assim toda vez que eu canto, seja no chuveiro ou no palco.
Outro trecho da música: "Ainda sou o Gustavo, filho de dona Gizelda e seu Rui". Aqui é um lance bem pessoal, mesmo, né? Por que era importante se reafirmar ali?
Eu estava na sarjeta, caído, as pessoas zombando de mim. Eu tinha que lembrar que apesar de caído, eu era um leão caído. E eu sabia que quem ria eram as ovelhas. Não lembro de nenhum outro leão rindo da minha cara. Lembrar quem eu sou, da onde vim e como fui parar ali foi a chave pra me levantar. Uso isso até hoje pra qualquer tombo, em qualquer nível.
O refrão também é poderoso, fala sobre "não poder fugir de mim mesmo", e é algo que pegou as pessoas. Todo mundo se identifica com essa ideia. De que maneira você interpreta esse refrão?
Esse refrão é inspirado em duas canções que adoro: "Running Away" de Bob Marley and The Wailers, e "Só por Hoje" do MC Adikto, além de trazer um pensamento de Carl Gustav Jung [fundador da psicologia analítica]. Lapidei e pus melodia com Papato.
O clipe apresenta você e o André Ramiro. Qual é a ideia que guia o clipe? São duas versões desse mesmo personagem? Consciência e a vida real?
O personagem é um só: eu mesmo. Nesse caso, a consciência e a vida real são exatamente a mesma coisa - pra quem tem uma consciência. Se ela pesa, a vida pesa. Esse filme é o duelo entre o eu e eu, em imagens.
"Que Nem o Meu Cachorro", "Vai Baby" e, agora, o clipe de "Carta Pra Amy". Há algo que conecta essas músicas? Algo que fez delas especiais para serem levadas para essa linguagem audiovisual?
Não necessariamente. As musicas são conectadas entre si, mas, no caso, os filmes pra elas foram questão de logística e estratégia.
Adorei, inclusive, o blazer amarelo no vídeo de "Carta Pra Amy". É uma inspiração daquela capa do dico do The Pharcyde, o Labcabincalifornia?
Sim, referência explícita! Esse disco é um clássico querido de prateleira. Queria usar um desses desde os anos 1990. Vi que agora era a hora boa e fui atrás.
Vou colocar aqui um som do The Pharcyde para vocês sacarem:
'Abaixo de Zero: Hello Hell' saiu em abril de 2019. Tivemos esse ano atípico de 2020, mas é um tempo de um ano e meio para pensar a respeito desse álbum. O que "Carta Pra Amy", em conceito, em contexto, representa pro disco?
Ela é o episódio que deu origem à série. Veio magicamente num momento difícil e me deu à luz pra eu ver que meu eu-lírico estava ali, e mais forte do que nunca.
"Carta Pra Amy" foi a música escolhida por Black Alien para encerrar a live que ele fez em setembro e é uma belezinha.
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