Barões da Pisadinha, a política e o fenômeno do forró em 2020: A thread
"Tá rochedaaaaaaaaa / Tô vendo / Pode crer, você merece um prêmio"
Vem, dança comigo essa música aqui, vem?
Invariavelmente, você cruzou com algum forró neste 2020, inclusive nas campanhas eleitorais de 2020. Não que isso não fosse assim em 2019, é verdade, mas a popularidade do gênero, a partir de de uma expansão da pisadinha no final do ano passado, deu frutos neste ano.
O que é pisadinha?
Vou ser rápido: pisadinha é um subgênero do forró, fenômeno no nordeste há algum tempinho. É tipo o lo-fi do rock, sabe? Simplão e tal? Em vez das produções ultra trabalhadas do forró, a pisadinha é lo-fi também: voz, teclado e paredão de som, pelo menos originalmente.
É interessante perceber como o forró tomou protagonismo para si, depois de artistas do gênero partirem para uma linguagem mais pop (caso de Wesley Safadão, por exemplo). Com a pisadinha, o forró se impôs com as suas particularidades e estética própria, entende?
Os números de 2020
Claro, estamos ainda em meados de novembro, portanto, os números anuais não estão fechados, mas dá para se ter uma ideia que, em um ano louco de pandemia e isolamento social, o forró se expandiu.
Em um levantamento da plataforma Deezer, revelado exclusivamente pela coluna, nos últimos seis meses, o crescimento do forró em novos ouvintes (ou seja, quem não tinha costume em ouvir o gênero) cresceu em 102,3%.
Um nome como o de Tierry, aquele da música "Rita", que não é da pisadinha, mas está ancorado no forró, destaque da coluna na semana passada, cresceu mais de 500% em ouvintes na plataforma. Escrevi sobre o fenômeno Tiehit na semana passada.
Ainda na Deezer, a dupla Os Barões da Pisadinha chegou ao 2º lugar do ranking global de músicas mais ouvidas com crescimento de 146% nos últimos seis meses. Faixas como "Tá Rocheda", "Recairei" (que você pode ouvir abaixo) e "Basta Você Me Ligar" (com Xand Avião) ajudaram na decolagem dos Barões.
Outros nomes cresceram nesse período de seis meses: gente como Eric Land (118%), Taty Girl (146%) e Mara Pavanelly (166%) estão bombando demais. Já ouviu algum deles?
A cidade que atualmente mais ouve os gêneros do forró é São Paulo. E o perfil do público é um jovem adulto, com idade de 26 a 35 anos (44% do público total). O pessoal ainda mais jovem, na faixa dos 18 a 25 anos, representa 33% do público total do forró atualmente.
E, claro, estou falando aqui muito da pisadinha, mas são muitos os subgêneros do forró bombando nas plataformas de streaming, como forró de favela, vaquejada, passinho e forró romântico. Tem forró para todos os gostos.
Deste último, o forró romântico, aliás, vem a banda A Loba, que bombou com "Ta Rocheda" em uma versão mais cadenciada, menos acelerada do que aquela de Os Barões da Pisadinha, em 2017.
Quer mais números sobre o crescimento do forró?
- Maio - Barões da Pisadinha chegam ao 69º no Top 100 da Deezer, subindo 381 posições, com "Recairei"
- Junho - "Recairei" chega à 49º posição
- Julho - "Investe em Mim", do Jonas Esticado, chega ao 31º lugar, no melhor desempenho do gênero até então.
Vou colocar "Investe em Mim" para vocês ouvirem:
- Agosto - Forró chegou ao top 10 ("Investe Em Mim") e outras duas estão no top 30 ("Recairei" e "Ta Rocheda")
- Setembro - Romântica, "Investe em Mim" chega ao 1º e as duas músicas dos Barões da Pisadinha entram no top 10.
- Outubro - o top 3 é formado por forró: "Recairei", 'Investe em Mim" e "Ta Rocheda"
Hoje, 18 de novembro, na Deezer, são 5 músicas de forró no top 10. Além das três citadas acima, tem também "Rita" e "Casa de Praia", também dos Barões.
Fui até o Spotify para ver se o mesmo fenômeno se dá na outra plataforma e resultado é o mesmo. Cinco das dez músicas mais ouvidas é uma das muitas possibilidades estéticas do forró.
Até na política?
Opa, claro que sim! Não foram poucos os candidatos aos cargos de vereador ou e prefeito que usaram o forró e seus subgênero nas propagandas eleitorais. O Guilherme Boulos (PSOL), que foi para o segundo turno na disputa pela prefeitura de São Paulo, tem um jingle ótimo em ritmo de pisadinha. Ouve só:
O que dizer de "O Homem Disparou", uma versão recauchutada de "Menina Pavorô", que se tornou o maior hit entre os políticos de todo o País. O que mudava era, obviamente, o nome do candidato, o número e a legenda, mas o resto era igual.
E faz sentido. Jingles políticos são reflexo do que a sociedade ouve, são tipo um termômetro, mesmo. Afinal, o político quer se comunicar com o povo, não apresentar um novo subgênero de jazz vanguardista.
Ou seja, nada disso é por acaso, entende?
Falta ainda um mês para o balanço de todas as plataformas de streaming, mas o que era uma previsão de crescimento no final de 2019 hoje é celebração. Forró chegou ao topo (de novo).
Mas que já tá rocheda, isso tá.
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