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Pedro Antunes

BBB 21 toca Imagine Dragons e prova que não há limite para o rock sapatênis

Dan Reynolds, vocalista do Imagine Dragons, no Palco Mundo do Rock in Rio em 2019 - ALEXANDRE SCHNEIDER/GETTYIMAGES
Dan Reynolds, vocalista do Imagine Dragons, no Palco Mundo do Rock in Rio em 2019 Imagem: ALEXANDRE SCHNEIDER/GETTYIMAGES

Colunista do UOL

28/01/2021 11h10

Sem tempo?

  • Imagine Dragons voltou aos trending topics porque tocou no BBB 21
  • O que gerou um novo debate nas redes sobre a qualidade da banda de Dan Reynolds.
  • São bons ou ruins, afinal?
  • O fato é que Imagine Dragons faz um "rock" que não é agressivo, mas também não é excelente.
  • É confortável, digamos assim.
  • Como um sapatênis.

Foi curioso. No meio do chororô da noite de anteontem (26), no BBB 21, quando todos os participantes contavam histórias de vida, derramaram lágrimas emocionadíssimos e se apresentavam, a produção decidiu ser hora de festa.

Do nada, mandou "Thunder", da banda Imagine Dragons, nas caixas de som. E foi um auê danado.

Gente rebolando, pulando, gritando, cantando. A turma do BBB pirou na vibe - principalmente porque junto do hit sem graça também chegaram cervejas e algumas garrafinhas de bebidas alcoólicas mistas, as tais Ices (pois é).

O nome da banda logo entrou nos trending topics do Twitter, é óbvio.

O que gerou um ruído, já que a banda de Las Vegas prepara um novo álbum, como foi anunciado por pelo Dan Reynols três semanas atrás, sucessor do disco "Origins".

A partir daí, veio um debate sobre ouvir Imagine Dragons durante o confinamento em Curicica. Eles, afinal, são uma boa banda ou uma banda ruim?

Houve quem considerasse a escolha da trilha sonora uma crueldade sem tamanho:

E também quem aprovasse a opção por "Thunder", do Imagine Dragons.

Afinal, Imagine Dragons é bou ou não é?

É uma banda de extremos. De amor e ódio. Impossível ser indiferente à trupe de Las Vegas.

Considerada pelas plataformas de streaming como uma banda de rock, Imagine Dragons apresenta um som versão clean, lavado, passado e engomado. Inofensivo e minimamente confortável.

Veja só, caso o atento leitor tenha percebido, é a exata sensação que temos a respeito de um elegante par de sapatênis.

Veja a definição do calçado no dicionário Michaelis e perceba algumas semelhanças:

"Sapato de material leve, geralmente de couro, lona ou plástico com a sola de borracha bastante fina, um misto de sapato com tênis, para uso em situações informais."

Dá pra imaginar esse conforto todo só de ler a definição acima, não é?

Ambos são inevitáveis. Pode-se até tentar correr deles, mas fugir é impossível.

O estimado leitor, frequentador de diversos círculos sociais, imagino, já viu alguém de sapatênis por aí. Possivelmente no trabalho. Talvez até os use em eventos que não são nem formais e nem casuais demais.

Entendo a opção pela informalidade do calçado no dia a dia. Respeito e tenho até uns dois amigos que usam.

Mas há quem abomine essa escolha fashion do ponto de vista estilístico.

Claro, por sorte, vivemos em uma sociedade na qual temos a liberdade de escolha, certo? Você pode ter um amigo que usa sapatênis para ir ao escritório na Avenida Faria Lima, outro que prefere ir ao supermercado do bairro do Itaim com tênis de corrida, e ainda ter aquela pessoa próxima desencanada que usa chinelo de dedo pra beber uma cervejinha gelada no bar da esquina.

E é tudo válido, meu caro fashionista de sandálias de couro sintético.

Aqui, é bom dizer, não pregamos que há certo ou errado, seja no gosto musical ou na opção de como se que vestir. Apresento aqui fatos e análises, apenas.

Imagine Dragons é uma banda inexplicavelmente popular no Brasil (dona de uma popularidade comparável e igualmente inexplicável a do sapatênis dentro das nossas fronteiras, embora escreva isso sem qualquer pesquisa científica ou dado concreto para confirmar tal afirmação).

Músicas como "Believer", "Thunder", "Demons" e "Radioactive" não são agressivas demais a acumulam visualizações de monte (no Spotify, por exemplo, cada uma delas passou da marca de 1 bilhão de audições).

Em 2020, aliás, "Believer" foi a música de rock mais ouvida no ano, como escrevi na coluna, com base nos dados da Deezer.

Veja você como são as coisas. Popularidade é uma coisa, excelência técnica ou estética é outra.

A fórmula do Imagine Dragons passa por canções com alguma dose de explosão e refrãos fáceis de cantar. O grupo lidera uma geração de bandas surgidas no final da primeira década dos anos 2000 ou criadas a partir do sucesso dessa turma, com Bastille, Kodaline, Of Monsters and Men, entre outras doçuras.

Em comum estão as vozes açucaradas, os arranjos minimalistas e as percussões marcantes - se o som tiver tambores, mais adequado ainda à vibe de "rock sapatênis".

É uma fórmula que garante uma presença interminável na cabeça horas depois da audição. É inescapável, acredite, pegar-se cantarolando algum refrão desses após ouvi-lo uma única vez.

Soma-se ao poder do Imagine Dragons o fato de Reynolds ser um bom sujeito, que usa a visibilidade conquistada com a banda para entregar discursos ultra contemporâneos e importantes sobre a saúde mental.

Sem machucar os pés e nem os ouvidos, Imagine Dragons ganhou mais destaque ainda com a exposição em um momento chave dos primeiros dias de Big Brother Brasil, o programa de maior audiência e relevância internética da TV brasileira atual.

O que mostra não existirem, realmente, limites para o rock sapatênis. É bom que haters, roqueiros, fashionistas ou ambos, se acostumarem.

Quando menos esperar, talvez até você cante o refrão "Believer" na sala de casa, durante o período de isolamento social. E, quem sabe, depois disso, na calada da noite, passe a ser acometido por vontades urgentes de adquirir um belíssimo e confortável par de sapatênis em uma loja online (de repente, alguma patrocinadora do BBB 21, inclusive).

Testemunhei com meus próprios olhos a conexão entre a música de Reynolds e o tipo específico de calçado na noite capitaneada pelo Imagine Dragons no Rock in Rio de 2019. Vi uma tonelada de gente cantando verso por verso na Cidade do Rock. E vi, também, um incontável número de pares de sapatênis espalhados por aquela grama sintética toda.

Seria coincidência? Eu acho que não.