Queridinha dos santa cecíliers, Charanga do França faz carnaval na solidão
O chão de taco está triste, lustroso depois de uma faxina feita para ocupar a cabeça.
Não há confete espalhados pelos cantos, não tem glitter escondido nos rejuntes. As fantasias e adornos carnavalescos seguem no mesmo canto escondido do armário deixado em 2020.
A samambaia, cabisbaixa que só, tadinha, recebe o sol desta segunda-feira linda de não-carnaval.
Logo abaixo dela, o gato se lambe em um banho exemplar para deixar o pelo lustroso.
O termômetro, na cidade de São Paulo, chegou aos 33ºC. Que dia lindo!
Hoje, segunda (15), era dia de descer do apartamento cujos valores de aluguel seguem em ascensão mesmo durante a pandemia, para ver o bloco A Espetacular Charanga do França passar.
Queridinho entre os santa cecíliers, nome dado aos moradores do bairro de Santa Cecília com uma boa dose de estereótipo e bom humor (que até foi foco de uma deliciosa reportagem do Universa), o bloco criado pelo saxofonista Thiago França era o acontecimento carnavalesco da região.
Gente da cidade toda passou a se juntar, ano após ano, para acolher e celebrar um desfile que tinha um quê do carnaval à moda antiga. Sem carro de som, trio elétrico, Thiago e uma banda, cada vez maior, partiam na segunda-feira de carnaval cedo da Rua Imaculada Conceição para dar uma volta pelas ruelas do bairro até o apogeu em no Largo de Santa Cecília.
No repertório, TODO instrumental, músicas autorais e marchinhas clássicas. Todo mundo cantava, ninguém empurrava. Era bonito de ver, seja com (muita) chuva ou (muito) sol.
Já lamentei a falta de carnaval em outro texto da coluna e o que queria, mesmo, era dar uma volta com a Espetacular Charanga do França pelas ruas do bairro.
O músico gigante Thiago França, de mil projetos saborosos, resolveu esse problema em partes. Colocou nas plataformas digitais o álbum "A Espetacular Charanga do França: Nunca Não É Carnaval".
Um disco que dói de tão gostoso, de tão aglomerável. França explica que tentou criar um álbum que descolasse a banda do bloco, mas viu que seria impossível.
Sambisticamente jazzístico, o que Thiago França e banda fazem nestas músicas é abrir rachadura na cabeça de quem ouve e despejar, ali dentro, uma dose de bebida enebriante antes de sacudir tudo.
"Nunca Não é Carnaval" é um título interessante, inclusive. É sempre carnaval. Até quando não tem.
Quando não há restos carnavalescos pela casa, quando o gato não se esconde por causa da barulheira de um bloco qualquer que passa na rua abaixo, quando a cabeça não dói pela desidratação do dia anterior.
Sem ir às ruas, a Espetacular Charanga do França ressoa como pode em tempos pandêmicos, faz barulho nas caixas de som ou nos fones de ouvido e embala danças solitárias pela sala de casa.
Com um pouquinho de confete e aquela lata de cerveja esquecida no fundo da geladeira, entre as verduras orgânicas e os restos do parmeggiana encomendado do almoço, você pode fazer seu carnaval particular. A trilha sonora está aí.
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