O fim do Daft Punk encerra a Era dos Anônimos na música pop
Sem tempo?
- Daft Punk anunciou o fim da dupla.
- O duo, vendedor de seis estatuetas do Grammy, não deu maiores detalhes sobre o que levou-os ao fim.
- E esse silêncio diz muito sobre a existência do Daft Punk, contra a corrente da superexposição à qual todos os artistas do pop precisam se submeter.
- Enquanto nomes do pop precisam se colocar nas redes sociais o tempo todo, o Daft Punk se mantinha escondido por capacetes de robôs.
- Com o fim do duo, encerra-se a Era dos Anônimos da Música Pop.
O Daft Punk não existe mais.
Sem alarde, despedidas ou uma colossal apresentação final, chegou ao fim a dupla formada por Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter.
Não há qualquer justificativa para o fim do Daft Punk. A falta de explicações, inclusive, faz parte do que representou o duo ao longo dos 28 anos de existência.
O duo publicou apenas um vídeo sob o título de "Epilogue" (ou "epílogo", em português), com um trecho do filme do Daft Punk de 2006 chamado "Electroma", no qual os dois robôs que personalizam os dois músicos vagam pelo deserto e um deles explode.
Melancólico, como qualquer despedida.
Com 6 estatuetas e 12 indicações ao Grammy, o Daft Punk foi um dos grandes nomes da música mundial a se manter firme na contramão da superexposição midiática quase BBBzística a qual qualquer artista do pop é submetido para se manter no jogo.
Nascidos em 1974 e 1975, respectivamente, Homem-Christo e Bangalter tiveram uma banda de rock chamada Darlin' (com a participação de Laurent Brancowitz, músico que depois passou a integrar o Phoenix depois disso) antes de fundarem o Daft Punk.
O que sabíamos sobre a intimidade de cada um deles é pouquíssimo. Curtem ficção científica, como apontou a Rolling Stone EUA ao visitar o estúdio deles em uma rua no sul de Paris, diante de um box de blu-ray com a saga completa (na época) de Star Wars, têm filhos e farrearam o suficiente no início dos anos 90 quando sentiram esse desencanto pelo rock, piraram no acid house inglês e caíram de cabeça nas raves na capital francesa.
O sucesso do Daft Punk ajudou a semear a cultura do "faça você mesmo" na música atual, que abrange nomes como o pop de Billie Eilish à psicodelia do Tame Impala. O álbum de estreia do duo, o histórico "Homework" (de 1997), foi gravado no quarto de Bangalter, com sintetizadores, baterias eletrônicas e um punhado de samples, algo que fazia parte da cultura hip-hop.
Chame-me de romântico, se quiser, mas adorava o anonimato em torno do Daft Punk. Gostava de imaginá-los de fato como robôs que criavam músicas que apontavam para o futuro cada vez mais eletrônico da humanidade.
Isso parecia ficção científica desmedida em 1997, mas é bem comum hoje em dia, quando inteligências artificiais já são capazes de criar músicas a partir do conhecimento acumulado de determinado artista.
Não saber muito sobre Homem-Christo e Bangalter além do que diziam seus discos é old school, é "arte pela arte", sem passar pela intimidade do artista. A música diz tudo o que a gente precisa saber.
No caso do Daft Punk, ao longo de quatro álbuns - "Homework" (1997), "Discovery" (2001), "Human After All" (2005) e "Random Access Memories" (2013) - e uma porção de outras colaborações (como em "Starboy", do The Weeknd), ouvimos os encantos e desencantos de uma vida automatizada.
Em cada disco, a repetição e os loopings se faziam desesperadores e, ao mesmo tempo, hipnóticos, como uma cópia do nosso dia a dia repetitivo e monótono.
Daft Punk brincou com gêneros, flertou com o impossível e com a música orgânica, sem nunca precisar mostrar os rostos ou intimidades para fazer a música ir ao nosso encontro.
Com o fim do duo, encerra-se também a Era do Anonimato na música pop.
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