Paralamas e Rubel lançam clipe com perigos e delícias do flerte com vizinho
São 5h27 da manhã desta quinta-feira (4) quando começo a escrever este texto e a home do UOL tem, na chamada principal, a seguinte informação: "Brasil tem 1.840 mortes por covid em 24h e registra novo recorde".
É desesperador, sim.
De alguma forma, a gente precisa se agarrar às pequenas esperanças para lidar com isso. Buscar histórias que consigam atravessar as camadas de desassossego e desespero e atingir um lugar em que exista um pouco de fantasia.
A arte está aí para isso: é cada vez mais necessária em um mundo que acorda com recordes nos números de mortes, neste País onde a vacinação caminha lentamente, a economia está em frangalhos, entre outras questões problemáticas deste desgoverno de Bolsonaro.
A gente precisa de afago. É o que trazem aqui Os Paralamas do Sucesso, banda que tem mais tempo de existência do que a democracia brasileira pós-ditadura militar.
Formado por Herbert Vianna (voz e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria), o trio gravou a música "Não Posso Mais", de Nando Reis, no último álbum de estúdio deles, o ótimo "Sinais do Sim", lá em 2017.
Destaco aqui, da versão registrada no álbum gravado no Rio de Janeiro e mixado em Los Angeles (EUA), com o produtor Mario Caldato Jr., a performance vocal de Herbert Vianna nestes versos. Há uma rouquidão tão visceral neste cantar, como se os gritos de "não posso mais viver sem você" rasgassem a garganta, cortassem as cordas vocais com a exaustão diante da ausência.
Quatro anos passados desde o lançamento do álbum, a música ganha clipe dirigido por Rubel, que é um artista de uma geração criada já com a existência dos Paralamas (que beira, atualmente, os 30 anos) e, por isso mesmo, alguém que invariavelmente bebeu da fonte paralâmica de música pop.
Com vocês, com exclusividade aqui da coluna, aqui está o clipe "Não Posso Mais", com direção de Rubel:
Os Paralamas do Sucesso e Rubel, aqui, resgatam o amor apesar dos tempos do distanciamento social. Duas mulheres compartilham suas vidas em uma conversa à distância, janela a janela.
Priscila Lima é Vani e Dandara Mariana interpreta Aline neste clipe que é também um curta-metragem com roteiro é assinado por Rubel, Maira Motta e Pedro Riguetti.
"O clipe é narrativo, a gente abordou tudo como uma cena de um filme, porque queríamos retratar um pouco do que é a sensação da quarentena, em especial dos três primeiros meses, quando a cidade estava respeitando à risca a ordem de não sair de casa."
Rubel, músico, diretor e co-roteirista do clipe
Empoderador em tantos sentidos, o vídeo faz sorrir com a candura com a qual a relação entre as duas ali floresce, apesar de tantos impedimentos - a distância necessária, a comunicação por meio de recados escritos em folhas de papel em branco.
Os criadores de "Não Posso Mais" esquecem é de considerar o grande perigo que é flertar com o vizinho de janela ou sacada. Isso precisa ser dito.
Afinal, uma vez iniciado o flerte, fica-se impedido de se largar do sofá de casa descabelado, tirar catota do nariz ou fazer qualquer coisa que você não faria na frente de alguém que tenta convencer a trocar umas beijocas.
Uma caminhada pela casa se torna um date. Olha que perigo!
Ainda assim, se uma relação nasce já com esse nível de intimidade, não há muito o que assustar depois disso, certo?
Brincadeiras à parte, alguns clipes são históricos, outros passageiros, embora marcantes, muitos esquecíveis.
"Não Posso Mais" atravessou as minhas camadas de desgostos nesta manhã de quinta-feira e deixou meu coração quentinho.
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