Mick Jagger e Dave Grohl atacam negacionistas com punk sem perder a classe
E o Mick Jagger que deixou o groove do blues rock tão rollingstoneano para afundar o pé no acelerador, ultrapassar limites de velocidade e mesmo com algumas derrapadas, entregar um punk deliciosamente sarcástico em parceria com Dave Grohl?
Uau!
A música nova, "Eazy Sleazy", pode ser ouvida no player abaixo.
"Eazy Sleazy" foi escrita por Mick Jagger durante esse período pandêmico - e traduz muito do que vivemos aqui até hoje. Ele canta com Grohl, líder do Foo Fighters e também responsável por gravar bateria, guitarra e baixo na música.
"É uma música que escrevi sobre como sair do lockdown, com um certo otimismo, que é muito necessário. Obrigado a Dave Grohl por pular na bateria, baixo e guitarra, foi muito divertido trabalhar com você. Espero que todos gostem de 'Eazy Sleazy'
Mick Jagger, em comunicado enviado à imprensa
No mesmo comunicado, o roqueiro mais sorridente do planeta Dave Grohl disse ter realizado um sonho compor uma música com Sir Mick. Fofo, né?
Esse é o retorno vocalista dos Stones às músicas inéditas depois de quatro anos. Em 2017, Mick soltou os singles também políticos "Gotta Get a Grip" e "England Lost", numa época em que o Reino Unido discutia o Brexit. Os Stones até alguns anos atrás, também vinham lançando algumas faixas.
"Eazy Sleazy" é tão punk que parece surgida na época em que os jovens rasgavam as calças jeans e usavam alfinetes nas orelhas no lugar de brincos. Caso a pandemia ocorresse nos anos 70, as músicas sobre o Covid-19 (ou Covid-72?) soariam razoavelmente assim - talvez mais sujas e barulhentas.
Mesmo que o instrumental não seja muito imaginativo (com exceção da ponte para o refrão) e que Mick pareça sofrer para manter o fôlego no andamento veloz da faixa, os versos escritos por ele são brilhantes, afiados e tragicamente reais.
Na letra, Mick ataca o negacionismo na jugular com classe
Enquanto retrata a vida enjaulada do lockdown ("não temos mais folhetos de agências de viagem", "vamos compor músicas no [aplicativo] Zoom" e "não tenho mais o que vestir"), Mick também cita os delírios dos negacionistas e as fakenews.
Ele fala da "vacina do Bill Gates" que fará "controle mental", caçoa dos terraplanistas e daqueles que alardeiam que o aquecimento global é pura invenção (alô, Trump, é você?). Por fim, também lembra que "existem alienígenas infiltrados no governo", diz.
A mensagem final de Mick Jagger, contudo, é de trazer otimismo para tempos cada vez mais sombrios.
"Será uma memória que vamos tentar nos lembrar de esquecer".
Em tempos em que tudo soa tão quadrado e sombrio, Mick inverte as fórmulas, se reinventa ao som de um punk divertido, coloca Dave Grohl para esmurrar uma bateria de novo e ainda ataca quem deve achar que bom mesmo é tomar hidroxicloroquina.
Bom, a hidroxicloroquina, propriamente dita, não é citada por Mick Jagger. E nem é culpa dele, afinal, qual outro país decidiu gastar quase R$ 90 milhões em tratamento precoce em vez de vacina além do Brasil?
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