3 discos incríveis para curtir um churrasco em tempos de isolamento social

No caminho do açougue, você vai cruzar com um boteco apinhado de gente. Ninguém usa máscara, é claro. Copos americanos em mãos, suados, vistosos. A bebida gelada desce pela goela entre uma ou outra risada.

"Será o bar uma zona livre de Covid-19?", você pensa. E lembra de um meme que recebeu no grupo da família, daquele tio cachaceiro, que diz que o álcool as bebidas alcoólicas "mata" o coronavírus. Mas não é e você, por mais que queira ficar como no meme que usei para ilustrar a matéria ali em cima, vai se lembrar disso e passar direto pela tentação.

Em São Paulo, capital, hoje (sábado, 24), foi o dia da reabertura da cidade. Sim, cruzei com um punhado de bares abertos e, acredite, também desejei esses goles de cerveja gelada com os amigos.

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Mas o distanciamento social ainda é necessário, não é? Se uma parte da população esqueceu disso, você fará a sua parte, assim como eu.

Não será fácil, mas este humilde colunista quer dizer que está contigo, sedentos leitores e leitoras.

Mas é fim de semana de sol, o que, depois de dias nublados e frios, já é motivo para festejar. Sem aglomerar, resta curtir o "Churrasco do Eu Sozinho".

"Churrasco do Eu Sozinho" é do mesmo criador de "Pocah, A Anti-Kafkiana" e "Pós-Sofrência de Jorge & Mateus", kkkk.

Que tal fazer um churrasquinho em casa? Não precisa de cortes de carne argentinos (afinal, a carne já está bem cara, né?), nem de uma churrasqueira instalada em uma varanda gourmet. Vamos no simples e baratinho. Alguns vegetais (se for vegetariano) ou umas linguiças e um franguinho para quem curte carne.

Aqui em casa, por exemplo, ganhei uma churrasqueira que nem sequer faz fumaça e o carvão é colocado nas laterais da coisa toda, uma loucura. A bichinha fica perto da janela e, até agora, nenhum vizinho reclamou.

Escolhi três álbuns (na verdade, são dois discos e um EP, que é mais curto) lançados em 2021 e que combinam com essa festa solitária, embalada por cachaça e chororô enquanto queimamos algumas carnes ou vegetais. Os discos que trago aqui tratam das mazelas do coração com good vibes, bem verão, porque, afinal, em um churrasco sozinho, você vai pensar em quê?

Para entrar no clima, vamos com um pouco de saudade e um pouco de novidade:

Grupo Menos é Mais - 'Plano Piloto' (2021)

Vez ou outra um texto que escrevi sobre esse grupo de Brasília volta para ser uma das mais lidas daqui da coluna.

Faz sentido que a turma desse neo-pagode esteja em alta. Com leveza para revitalizar as tradições do gênero, o Grupo Menos é Mais não tenta inventar a roda ou recriar as bases do pagode que a gente ama.

O Menos é Mais se debruça por questões amorosas ou festivas que o pagode sempre tratou com uma linguagem contemporânea, sem esquecer a percussão bem marcada, as múltiplas vozes e os refrãos extremamente cantaroláveis.

É um pouquinho de nostalgia com uma sensação de novidade, tudo ao mesmo tempo. Pagodinho de dançar miúdo enquanto prepara o fogo do churrasco solitário e bebe aquela gelada.

Agora, vamos para a vibe "sofrer com um copo de cerveja na mão":

Ludmilla - 'Numanice' (2021)

Este álbum ao vivo da funkeira Ludmilla é um acontecimento. Ludmilla é artista raiz, não é geração Nutella, não. Briga com racista, dá espetáculo no BBB, é gente como a gente, que também sofre com amor e adora uma vibe "sofrer com um copo de cerveja gelada na mão".

O show no BBB 21 inspirou esse texto meu, emocionadíssimo.

"Numanice" (2021) é retrô, com clássicos do pagodão que já choraram com a gente e acompanharam outras ressacas de cerveja barata, mas também moderníssimo.

Exemplo de atualização do pagode, "Te Amar Demais" é uma música cantada por ela e Di Propósito, que coloquei acima. Seguuuura o coração, meus churrasqueiros solitários, porque o final desse vídeo traz a dupla recriando "Best Part", sucesso gringo de Daniel Caesar e a H.E.R., e é lindo.

Álbum ao vivo, gravado no alto do Pão de Açúcar, "Numanice" é histórico porque estabelece a fluidez artística de Ludmilla e também a posiciona como uma voz feminina importante desse renascimento do pagode.

Acasos amorosos, novas e velhas sofrências, tudo com uma voz talhada pelo R&B gringo e o funk brasileiríssimo da Lud.

Para terminar, um forró "romântico suave":

Luan Estilizado - No Churrasco (2021)

"Todo churrasco tem seu fim", teriam cantado os Los Hermanos se eles não quisessem se mostrar cool e descolados demais. E o nosso churrasco, guerreirinho ou guerreirinha que me acompanharam nesta jornada sem aglomeração, também está perto do fim.

Depois de ouvir Grupo Menos é Mais para aquecer a churrasqueira e "Numanice", da Ludmilla, quando a carne começa a sair, resta a última parte desta festa solitária, o terceiro ato desta demonstração de comprometimento com o distanciamento social.

Com Luan Estilizado e o EP "No Churrasco", fresquinho, lançado na sexta-feira (23), você encontra forró, vaquejada e dilemas do coração.

"Trocar de Chip" é uma divertida fábula de uma ex que se arrepender de dar um pé na bunda e quer voltar. Já "Por Um Fim de Semana" daqueles que mexem com o coração.

Luan Estilizado, que viralizou com o sucesso do hit "Tá Faltando Eu", encontra novas formas de tratar das aflições amorosas. É leve e, ao mesmo tempo, canta como se vivesse constantemente o último e grande amor.

Acabou o churrasco, e agora?

Com o fim do EP de Luan Estilizado, termina também a nossa jornada aqui.

A brasa brilha entre as cinzas e a fumaça dança de um jeito bonito de se ver. O cheiro pós-churrasco tem fumaça e a boca está seca pelo excesso de sal e aquelas garrafas da sua cerveja preferida.

Há uma sensação de vitória, não é? Não cedemos à tentação e mantivemos o doloroso distanciamento social de amigos e das pessoas que mais sentimos falta.

No máximo, você postou alguns stories no Instagram de gosto duvidoso dublando a Ludmilla e, talvez, tenha mandado uma ou outra mensagem carente para algum(a) ex.

E tudo bem. Você venceu. Antes de dormir na paz dos não-aglomeradores, tome uns três copos d'água para evitar a ressaca do dia seguinte. Por que essa, sim, é realmente inevitável.