Novo disco da Duda Beat é uma péssima notícia para os apaixonados
Sem tempo?
- Lembra da história de vivermos na era da pós-sofrência?
- Duda Beat prova que estamos, definitivamente, em um período mais introspectivo quando o assunto é cantar o amor.
- Três anos depois de ‘Sinto Muito’, a artista soltou o álbum ‘Te Amo Lá Fora’
- E embora o disco tenha uma produção primorosa e que vai do piseiro ao dancehall, o álbum é musicalmente mais sombrio.
- São músicas que tratam de amores há muito acabados, de outros tempos, de memórias mais confusas.
- Pior para os atualmente apaixonados, que se publicarem algo nas redes sobre o disco, podem passar a mensagem errada de estarem solteiros. Pois é.
Manuela sabia que, desde às 20h30 de ontem (28), o novo disco de Duda Beat estaria online. Ativou o lembrete na plataforma de streaming de música favorita e não deu outra: às 20h32, estava ouvindo "Tu e Eu", faixa que abre "Te Amo Lá Fora", o segundo álbum da artista pernambucana.
Às 21h11, empolgada pela excelência das produções das faixas, obra da dupla Lux&Tróia (formada por Lux Ferreira e Tomás Tróia), decidiu compartilhar a faixa "Game", no Twitter. Nos versos, Duda canta uma desilusão amorosa daquelas.
"Eu tava lá tão bonitinha
Você passou e me olhou
Se lembrou que eu te amava
Seguiu em frente, deu em nada
O amor que tanto te dura
É o mesmo que me maltrata
Isso tudo tá invertido
Eu não quero ser uma amiga sua"
Terminou de ouvir o disco todinho, feliz com o avanço estético da artista Eduarda Bittencourt desde a estreia, o álbum "Sinto Muito" (2018). Ligou namorado pelo WhatsApp para o tradicional "boa noite" por chamada de vídeo, mas ele não entendeu. Enviou uma mensagem, que foi lida e ignorada. Decidiu deixar o celular de lado para aproveitar o Paredão do BBB 21 que começaria em instantes na TV Globo.
A garota acordou, como de costume às 8h, com a mensagem de Guto, o namorado. Estava indignado, o jovem, com indireta publicada pela namorada no Twitter. "O que você quer com isso, Manuela???", perguntava ele no auge da fragilidade da sua masculinidade, chamando-a pelo nome completo e não pelos apelidos carinhosos e costumeiros, como "Manuzinha", "Mamá", "Manu" ou o tradicional "benzinho". "Para quem foi esse post, ein?", escreveu o rapaz, seguido de um emoji de carinha brava.
E Manuela, pobrezinha, que só queria louvar Duda Beat, começou o dia com um problema (ou seria logo a solução para se livrar desse relacionamento que não ia para lugar algum?).
Dudu e Chico se conheceram em um show de Duda Beat. Paixão avassaladora ao som e dança de "Bixinho", o grande hit da artista. Flertaram com os versos desapegados de "Me contento em te ter bem devagarzinho, fazer um amor bem gostosinho", mas, é claro, não se desgrudaram mais desde aquela noite em 2019.
Ouviram deitados na cama, luzes apagadas, olhos fechados e cabeças nos travesseiros. Tinham as mãos dadas. "Foi mágico", teriam dito eles em uníssono, se alguém lhes perguntasse.
Dudu postou um story com "Tocar Você", a poderosa faixa que encerra "Te Amo Lá Fora", que tem uma vibe bem de pistinha, com sintetizadores e dedos estalados. Também no Instagram, o namorado publicou "Meu Pisêro", a deliciosa pisadinha na moda de Duda, Lux e Tróia.
Talvez por conta de versos como "eu preciso te esquecer", publicado por Dudu, e "Me segurei contra esse amor que acabou comigo de vez", postado por Chico, o casal foi alvo de uma conjectura de que teriam terminado o relacionamento tão bonito deles. "Amor", disse Dudu, preocupado hoje pela manhã, "recebi um monte de mensagem de gente perguntando se a gente terminou, acredita".
Chico, que mexia a colherinha para lá e para cá para misturar o açúcar no café do namorado, não soube o que responder. Eles, que pensavam em alugar um apartamento maior para adotar um gato, passaram a manhã respondendo aos boatos de que estavam em crise. Veja só.
E a culpa disso é de Duda Beat?
Não é dela - afinal isso seria culpar a vítima -, mas, sim, de uma sociedade suficientemente imatura para não entender que nem tudo é indireta nas redes sociais.
A culpa de Duda, Lux e Tróia seja, talvez, criar canções tão perfeitamente contemporâneas que cada verso e estrofe pode ser interpretado como uma mensagem amorosa indiscreta para o bem ou do mal nesta esfera virtual.
"Te Amo Lá Fora" não é uma mera evolução de "Sinto Muito", porque os três anos que separam os dois álbuns parecem ter durado uma década inteira para a artista Eduarda.
Quando a entrevistei dias antes da chegada do álbum de estreia, falávamos de uma vida pré-música, da faculdade de direito que ela havia largado e das incontáveis vezes em que outras pessoas moeram o coraçãozinho dela.
"Sinto Muito" ganhou um destaque bonito no Estadão na época. O que era "sofrência indie" passou a ser "sofrência pop", conforme a música de Duda chegou em mais pessoas. Hoje, ela ultrapassou a bolha dos alternativos, é amiga de nomes enormes da música brasileira jovem e extremamente popular, como Anavitória e Pabllo Vittar.
Nesse meio tempo, tocou para milhares de pessoas em festivais Brasil afora, gravou com gente que vai de Tiago Iorc ao rapper Rashid.
E tudo isso, de alguma forma, está em "Te Amo Lá Fora", porque este não é um disco mais de um coração recém-partido.
É esteticamente mais sombrio, apesar camadas criativas do som de Lux&Tróia sejam sortidas e crocantes, do piseiro ao pagode baiano, do dancehall e drill e ao eletrônico de pista.
Como escrevi em uma análise sobre o álbum de Jorge & Mateus, não vivemos mais a era da sofrência. Agora é a pós-sofrência, esse estado meio nebuloso de que não as lágrimas já secaram, as feridas cicatrizaram apesar de a pele ainda estar sensível, e os sentimentos se misturam na gente.
O que era à flor da pele, era toque, mão na coxa de "Sinto Muito" agora está introspectivo. Duda, a própria, já está em outra: vive um relacionamento estável desde o primeiro disco e isso coloca uma distância temporal maior das tormentas do coração.
Então, para acessá-las, precisa ir mais fundo e o resultado é menos intenso do que o primeiro álbum e mais amargo também. O que faz de "Te Amo Lá Fora" tão intenso e brilhante.
O momento solar está justamente nas canções de amor correspondido, como a luxuosa "Decisão de Te Amar". Leiam que estrofe deliciosamente feliz:
"Quando você chega
Fico boba, fico rindo
Às vezеs paro e penso
Juro, não acredito"
O que prova que Duda Beat não é a "Adele brasileira" e pode, sim, produzir grandes canções em estado de graça. É lindo isso.
Resta ao brasileiro se acostumar que nem toda postagem relacionada à obra de Duda Beat é uma indireta de término de relacionamento.
Às vezes, só gostamos da música, mesmo que seja triste.
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