Oasis x Blur? Final da Liga dos Campeões recria a última rivalidade do rock
Sem tempo?
- A próxima final a Liga dos Campeões será entre Manchester City e Chelsea
- E estes são os times de coração das bandas Oasis e Blur
- Com isso, o futebol reacendeu a rivalidade que estava adormecida entre as duas grandes bandas do rock inglês dos anos 90
- Esta rivalidade ganhou até nome, A Batalha do Britpop, e teve disputa de singles mais vendidos, xingamentos e álbuns históricos
- Relembre a história da disputa entre os irmãos Gallagher e Damon Albarn
- E veja como o futebol pode imitar a arte.
No Reino Unido, torcer para um time de futebol é coisa séria. Tipo no Brasil (certa vez, cometi o erro de comparar um artista com o Vasco da Gama e devo ser proibido de passar em frente ao São Januário até hoje), mas, às vezes, por lá a coisa fica bem feia.
E a final da Liga dos Campeões, também conhecido como o principal torneio de futebol interclubes do mundo, marcada para o dia 25 de maio, reacenderá a maior rivalidade da música dos últimos 30 anos.
Isso porque, frente a frente, estarão dois times ingleses, o Manchester City e o Chelsea (ambos presididos por magnatas bilionários dos Emirados Árabes e Rússia, respectivamente), em uma partida que ocorre hoje (29), às 16h, no horário de Brasília, na cidade do Porto, em Portugal.
Esta será a terceira final do campeonato protagonizada apenas por ingleses, mas esta é uma coluna de música e não de futebol (Alô, UOL, me deixa ser comentarista de futebol, também?), então, vamos nos ater à rivalidade musical da coisa toda.
O curioso desta história é que as agremiações de Manchester e Londres são os times de coração dos artistas que disputaram, lançamento a lançamento, o topo da música inglesa durante os anos 1990, Blur e Oasis
O negócio ficou tão sério que ganhou nome pomposo no estilo "Game of Thrones": "A Batalha do Britpop".
Mas vamos por partes: Britpop era o nome dado para o movimento de nova música de guitarra inglesa que era mais melódica, derivada do post-punk dos anos 80 e da recém-iniciada febre pela música eletrônica e acid house e raves no Reino Unido.
O Britpop era comumente tratado como uma resposta britânica aos grunhidos raivosos do grunge norte-americano, mas nem vou entrar nesta polêmica.
Naquela década de 1990, eram quatro grandes bandas do movimento conhecidas como o Big For: Oasis, Blur, Pulp e Suede.
Claro, a turma indiezêra vai dizer que amava as crônicas musicais do Pulp e a desolação do Suede e querer emplacar outros nomes como os maiorais do Britpop, mas a verdade é que no topo das paradas e nas capas da revistas especializadas estavam Oasis e Blur. As duas bandas eram as grandes protagonistas do movimento, muito porque tinham personagens interessantíssimos e vendiam mais discos.
Quando não arrumam confusão entre si, os irmãos Gallagher, do Oasis, davam um jeito de criar confusão com os outros. E claro que Damon Albarn, vocalista do Blur, era um dos alvos preferidos dos maiores encrenqueiros da Inglaterra.
Mas não pense você, da geração Z, que Albarn é bonzinho e só dava respostas doces, ok? Ele também era ácido como poucos.
O ano era 1995 e as duas bandas passavam por um processo transitório.
O Blur chegara primeiro, ainda em 1991, com o álbum "Leisure" e as letras que falavam diretamente com os filhos da classe trabalhadora britânica que não tinham perspectivas de futuro melhor.
Com essa atitude, Albarn, Graham Coxon (gênio da guitarra), Alex James (baixo) e Dave Rowntree (bateria) ainda emplacaram o "Modern Life Is Rubbish", em 1993, álbum que consolidou o conceito de Britpop e de onde veio a adorável "For Tomorrow" e o histórico disco "Parklife", do ano seguinte, que chegou ao topo das paradas no Reino Unido.
Naquele mesmo ano de 1994, a música pop britânica foi revolucionada com a petulância sonhadora e ruidosa dos Gallagher e do álbum "Definitely Maybe", que vendeu mais de 2 milhões de cópias só na Terra da Rainha.
O que era uma coexistência razoavelmente pacífica escalou rapidamente para uma rivalidade. E como polêmica vendia revista (e até hoje rende clique), tudo foi alimentado pela imprensa sensacionalista britânica
Albarn contou à NME, revista inglesa que sempre adorei ler, que estava em uma festa para comemorar que o single do Oasis "Some Might Say" estava no topo das paradas quando Liam (o irmão mais novo dos Gallagher) teria berrado no rosto do vocalista do Blur: "Number fuckin* One".
E aí o bicho pegou, meus amigos. Albarn comparava os Gallagher aos valentões que faziam bullying nas escolas. Bem o tipinho deles, não é? E ficou fulo da vida. Foi criado um desafio.
Single a single, Oasis e Blur disputaram o topo da música.
E tudo isso nos levou ao dia 14 de agosto de 1995. Nesta data, Blur (com "Country House") e Oasis (com "Roll With It") decidiriam qual era a maior banda da Inglaterra com o lançamento de novos singles.
E, por consequência, definiriam qual era a maior banda de rock do mundo, já que os britânicos acham que estão no centro do universo.
Aqui está a capa da revista NME de 12 de agosto de 1995, anunciando a grande disputa:
Vamos, antes, ouvir às duas faixas?
"Country House", do Blur:
"Roll With It", do Oasis:
Qual é a sua preferida? Conte ali nos comentários.
Foi uma expectativa danada. Tipo essa da final da Liga dos Campeões. Apostas rolaram soltas. No domingo, 20 de agosto daquele ano, a contagem chegou ao fim.
E "Country House" venceu "Roll With It" por uma diferença de 58 mil unidades vendidas: foram 274 mil do Blur contra as 216 mil do Oasis, segundo o jornal The Guardian.
Nesta batalha, o Blur levou a melhor, mas não era o fim da história (realmente, é tudo bem Game of Thrones).
Porque naquele ano de 1995, as duas bandas também lançariam álbuns completos. Blur, em 11 de setembro, soltou "The Great Escape", um álbum mágico e devastadoramente melancólico. Mas o Oasis veio com "(What's the Story) Morning Glory?", alguns dias depois, em 2 de outubro.
E, em quantidade de hits e de impacto cultural, não deu para Albarn e companhia. O álbum do Oasis se tornou o mais vendido da década de 1990 no Reino Unido, amparado por hinos de uma geração roqueira com sotaque britânico como "Wonderwall", "Don't Look Back in Anger", "Morning Glory", "Champagne Supernova" e "Some Might Say".
Ao The Guardian, o baixista do Blur Alex James definiu a história assim, em 2007.
"O Blur venceu a batalha, o Oasis venceu a guerra e o Blur venceu a campanha inteira"
Ao dizer isso, ele se referia ao fato de que o Oasis estava sempre em processo de implosão, como aconteceu, por fim, com a separação do grupo em 2009, com discos que passaram a ser mais criticados do que aclamados, enquanto o Blur seguiu em forma, mas com lançamentos cada vez mais minguados (o último disco foi "The Magic Whip", de 2015) e, atualmente, o grupo esteja em um hiato.
Mas o que a Batalha do Britpop pode ensinar para a final da Liga dos Campeões?
Em um exercício fantasioso de transformar o duelo roqueiro na partida de futebol no estilo vidente de araque, eu arrisco o seguinte.
O time de Damon Albarn, o Chelsea, abrirá o placar logo no início do jogo. Gol de infiltração do meia N'Golo Kanté, que é uma máquina.
O Manchester City, dos aficionados Gallagher, empatará no segundo tempo. Gol do nosso menino Gabriel Jesus, que entrará minutos antes da partida se encerar.
No tempo regulamentar, o tenso empate em 1 a 1. Nos pênaltis, o Chelsea vencerá como previu Alex James lá em cima, com um salto mágico de Édouard Mendy que impedirá uma cobrança milimétrica de lkay Gündogan.
Título ficará com os azuis de Londres.
Podem cobrar depois.
Nos comentários, digam aí. Quem é maior: Manchester City ou Chelsea? E qual banda é melhor: Oasis ou Blur?
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