Dor de amor e vinho barato: Zé Vaqueiro resgata o emo que existe na gente

Ela passou na garupa da moto amarela. Ele a reconheceu, de longe, sentado solitário em uma das cadeiras de plástico na calçada do bar. Na mesa, uma garrafa de São Braz, bebida que parece vinho (mas é um "coquetel de frutas" alcoolico), a espera dos dois.

Ela, Letícia, foi embora. Ele, Zé Vaqueiro, ficou.

Assim começou a saga de desamor e sucesso nacional do cantor nascido José Jacson de Siqueira dos Santos Junior, de Ouricuri (Pernambuco), há 22 anos.

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"Letícia", música de refrão chiclete ("Letícia, Letícia, para onde você vai com esse mototaxista?"), foi produzida pelo fenômeno DJ Ivis e lançada ainda em outubro de 2020.

E catapultou Zé Vaqueiro para o cenário nacional. No YouTube, atualmente, o clipe gravado em um bar (é claro) tem mais de 242 milhões de visualizações (e 3,2 mi de inscritos). No Spotify, são 56 mi de plays e 1,2 mi de seguidores. Por falar em seguidores, no Instagram são 4,7 mi.

Mas números são só isso, números.

O ano e 2020 marcou a ascensão da pisadinha, uma ressignificação estética do forró, com produção simples, tecladinhos delirantes (alô, Barões da Pisadinha) e letras extremamente populares e cotidianas.

Zé Vaqueiro, abandonado pela tal de "Letícia", em 2020, se juntou a outros hits do ano que levavam o nome mulheres, assim como "Rita" (do gigantesco Thierry), "Larissa" (Pedro Sampaio), "Bruninha" (Kevinho) e "Renatinha" (Barões da Pisadinha e Xand Avião) e "Virgínia" (Zé Felipe).

Zé "emo"?

Talvez você tenha vivido os anos da ascensão da música emo de outra forma. Para muita gente, contudo, foi como a história de Zé Vaqueiro em "Letícia": dores do coração, músicas tristes e vinho barato.

Nada mais emo, social e culturalmente falando, do que sentar em um estacionamento de shopping ao ar livre ou no canto de um posto de gasolina na companhia dos amigos para ouvir versos melancólicos, pensar naquela pessoa que nos abandonou e bebericar a bebida alcoólica que estiver disponível no orçamento limitado da turma. No caso da garotada dos anos 2000, o som era hardcore melódico, claro.

A diferença de Zé Vaqueiro é que ele não tem (atualmente, pelo menos) uma franja sobre os olhos, não passa delineador ao redor dos olhos e, por sorte, também não veste pesadas roupas pretas.

Zé Vaqueiro é, sim, o emo da pisadinha. São novos tempos, afinal.

Supus que, com outros singles, José Jacson encontraria o amor. E até agora nada.

Após ser largado pela Letícia, Vaqueiro canta uma desesperada reconciliação na tristinha "Volta Comigo BB", outra parceria entre Vaqueiro e Ivis.

Com riff de tecladinho e saxofone que parece ter saído de um new wave da banda The Human League (aquela do "Don't You Want Me"), a música ocupa o 22º lugar no Spotify Brasil na última semana.

No clipe abaixo, perceba a estética chique, com look que inclui gola alta e correntes no pescoço e o sorrisão largo de José Jacson nas primeiras cenas.

"Saudade tem nome sou eu
Meu coração ainda é teu
E se tu ainda não percebeu
Tem como eu voltar pra você?"

Ele pode estar sorrindo, mas sabemos que o seu pobre coração está em dor. Quem nunca se vestiu bem, colocou um par de óculos escuros e fingiu estar bem, apesar da saudade que sente por dentro?

Neste caso, inclusive, ele se veste todo de preto!

É disso que estou falando: emo.

Vamos para outra?

De jaqueta vermelha e topete impecável, ele se desespera em "Cadê o Amor", clipe mais recente, que se passa em um gramadão. Com jogo de luzes, o lugar parece mal-assombrado, como as vielas tristes e vazias do coração deste vaqueiro.

"Cadê o amor,
Se não vai me dar
Arruma outro
Cadê o amor
Se não vai mudar arruma outro"
Diz a letra assinada por quem? Dj Ivis, é claro

A música está em 4º lugar atualmente na parada viral do YouTube brasileiro. Sucesso, também.

Como sofre esse rapaz.

Alguém, por favor, arrume um date para o Vaqueiro?