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Pedro Antunes

O que Dua Lipa, Raí Saia Rodada e Netflix têm em comum?

Raí Saia Rodada, Dua Lipa e Cowboy Bebop propõe revival do faroeste? - Montagem: Pedro Antunes
Raí Saia Rodada, Dua Lipa e Cowboy Bebop propõe revival do faroeste? Imagem: Montagem: Pedro Antunes

Colunista do UOL

08/06/2021 17h04

Em um universo estético, Raí Saia Rodada, Dua Lipa e uma nova série da Netflix caminham juntos.

Parece inimaginável, não é?

O que o artista de Umarizal, no Rio Grande do Norte, dono do seminal hit "Tapão na Raba", assistido mais de 213 milhões de vezes no YouTube, tem a ver com a inglesa descendente de albaneses e atualmente toda poderosa da música pop?

Como a plataforma de streaming se conecta com tudo isso?

É estética de faroeste que está de volta.

Há um contexto que, apesar das diferentes origens, faz tudo se encaixar.

Raí Saia Rodada é uma das figuras mais bem-sucedidas deste forró eletrônico que domina o País.

O vídeo de "Tapão na Raba", com todas as suas peculiaridades (como paredão de som puxado por uma charrete, um dançarinas burlescas, o boteco transformado em saloon e a atuação compenetrada de Saia Rodada) une os signos eternizados da estética faroeste ao universo do forró/sertanejo brasileiro como pouco se viu.

É uma obra solar necessária para este 2021 tão nebuloso.

Não por acaso, a simplicidade cantada pelo artista sobre a saudade do traseiro que ele chama de "raba" chegou a liderar as paradas brasileiras por muito tempo (até a ascensão de "Batom de Cereja", de Israel & Rodolffo, pelo menos). Atualmente, está em 13º lugar do Top 100 do YouTube Brasil, apesar de ter sido lançada no já distante mês de fevereiro.

Com este clipe, Raí se posiciona na linha tênue que existe entre o forró e o sertanejo contemporâneos. A opção por trazer uma roupagem faroeste para "Tapão na Raba" acompanha este movimento.

Botas de couro, fivelas chamativas e os chapéus de vaqueiro constituem a imagem do sertanejo brasileiro, embora historicamente a tal época do "faroeste" tenha acontecido milhares de quilômetros de distância daqui, no oeste do território que hoje conhecemos como Estados Unidos.

O que a gente chama de sertanejo aqui, lá é country. E um jovem rapper decidiu, em 2019, mexer um pouco com o status quo da música pop. Criou um hit com uma batida que custou 30 dólares, unindo rimas vagarosas e um refrão cantado pelo pai da Miley Cyrus. E bingo, a música mainstream nunca mais foi a mesma.

O que nos leva à Dua Lipa

A artista que até então era uma promessa com um par de hits dançantes explodiu com "Future Nostalgia", um álbum lançado em meio ao primeiro ano da pandemia do coronavírus. A voz grave dela se vestiu de timbres de sintetizadores vindos das discotecas dos anos 70 e 80 para fazer a gente dançar em casa como se pudéssemos aglomerar em uma festinha retrô de bom gosto.

Em ascensão vertiginosa, Dua deixou a vibe cintilante dos anos 80 dos clipes do álbum, como visto em "Physical" e "Levitating", para surgir na tela de chapéu, botas e até montada em um touro elétrico invisível.

O vídeo atualmente está em 19º nos trendings do YouTube mundial.

Não entendi algumas coisas deste vídeo, confesso, como a história que gira em torno de ovos de galinha gigantes, mas, além disso, é clara a ideia do visual faroeste moderno ali, da mesma forma como Raí Saia Rodada criou um universo de faroeste do sertão para chamar de seu.

O caubói do espaço

O nome do álbum de Dua pode ser traduzido como "nostalgia do futuro", o que se encaixa com a linguagem de "Cowboy Bebop", o icônico anime sobre com estética faroeste e noir futurística que ganhará uma versão live action pela Netflix ainda em 2021.

A plataforma de streaming, aliás, anunciou a presença da compositora Yoko Kanno, responsável pela música tema da animação de 1998, de volta à franquia.

A série terá 10 episódios e acompanhará a saga de caçadores de recompensa em um ambiente futurístico e espacial. O elenco tem, entre os confirmados, John Cho, Daniella Pineda e Mustafa Shakir.

Coincidência ou o caubói é pop de novo?

Dois dos melhores clipes de 2021 usam desta mesma estética.

Somados à série da Netflix que leva caubói no título (embora pegue mais emprestado o conceito dos desbravadores do espaço), são três produtos de cultura de massas extremamente populares que usam conceitualmente da estética faroeste em suas bases.

Se fossem dois, chamaríamos de "onda". Três já podemos dizer ser tendência.

De alguma maneira, tudo se costura pela ideia do desbravamento da época (não entrando na questão do assassinato dos indígenas promovidos pela invasão dos caubóis no território dos nativos norte-americanos, é claro, que é evidentemente problemática).

Veja só: era uma época em que as leis eram desrespeitadas, em que sair de casa era uma aventura perigosa e de busca por riquezas.

Sei lá, mas parece ser uma descrição perfeita do meu 2021.