BTS conduz a nova revolução do pop. Como fizeram Michael Jackson e Beatles
Sem tempo?
- Existem artistas gigantes e aqueles que são revolucionários.
- Beatles e Michael Jackson são alguns artistas que definiram uma Nova Era.
- E estamos diante de uma nova revolução, agora comandada pelo BTS.
- Hoje, no aniversário de 8 anos da estreia do grupo sul-coreano, mostro como a existência deles já afeta completamente a música pop como a conhecemos.
Alguns artistas marcam época. Outros, poucos, transformam-nas.
Michael Jackson era um desses revolucionários de status quo. Na música pop (que não é um gênero e, sim, um ecossistema que envolve mais do que harmonias e versos), existe o antes e o depois de Michael Jackson.
O mesmo foi com os Beatles décadas antes.
Vimos artistas gigantes indo e vindo. E, tenho certeza, vocês apontarão toneladas deles em comentários raivosos no campo abaixo.
O zeitgeist se moldou à nomes extremamente populares, que venderam milhões de cópias de discos, fizeram turnês avassaladoras, ganharam capas de revistas importantes e impactaram mudanças, mas não foram revolucionários em âmbitos mais profundos, sócio, econômico e até políticos.
Este posto é para poucos. São aqueles que encapsulam o espírito de mudança e capitaneiam uma nova era.
Existiram artistas que dançavam melhor que Michael Jackson, que criaram a estética usada pelo Rei do Pop e outros repetiram seus feitos em números de vendas e talvez até o tenham ultrapassado.
Nenhum teve o mesmo impacto para o nosso planeta e a sociedade desde Michael.
Pelo menos até a chegada septeto sul-coreano.
Hoje o BTS comemora 8 anos de existência. Há quem só os tenha conhecido a partir do domínio do single "Dynamite", que ganhou as manchetes em 2020 ao ser a primeira música do K-pop a estrear no topo da parada Hot 100 da Billboard norte-americana, mas a história do grupo é bem anterior à isso.
(Aliás, "Dynamite" sequer representa o melhor que o BTS pode produzir, diga-se de passagem.)
BTS representa o novo pop e tudo o que vamos ver daqui para frente.
Aliás, já estamos vendo isso acontecer.
A nova revolução não é televisionada. E, possivelmente, não faz sentido para você, leitor com mais de 30 anos.
O BTS representa uma geração que, eu, nascido em 1986, ainda tento entender.
Tudo é fluído e líquido como a humanidade jamais viu. A crítica musical tradicional sofre para tentar enquadrar o grupo em uma caixinha musical, mas é impossível.
O BTS é trap e hardrock, são rap e dubstep, são música eletrônica e baladas folk. Nascidos de uma época em que se têm acesso a tudo, o BTS não sabe o que é amarra estética. Para que se prender em uma batida, se é possível ter todas?
Hoje, vemos um álbum extremamente popular, como "SOUR", de Olivia Rodrigo, ter punk pop, baladas tristes ao violão e músicas dançantes. Um artista de R&B alternativo como The Weeknd tem se aventurado por timbres dos anos 80, assim como Dua Lipa e sua nostalgia futurística.
A internet mudou o tempo das coisas - conceitualmente falando, o que é passado, presente e futuro no ambiente virtual? - e o BTS é a representação máxima deste novo capítulo musical. Não existe linearidade porque um álbum de 1988 pode ser descoberto agora, em pleno 2021 e soar novo para alguém.
Mas isso vai muito além da estética musical. A indústria tentou controlar seus ídolos como pode e o tiro eventualmente saiu pela culatra. Gente como Britney Spears, Demi Lovato e Justin Bieber são exemplos de artistas que, inseridos em uma bolha, perderam contato com a realidade. Cantavam músicas de plástico sobre sentimentos que nunca foram deles.
Viraram reis e rainhas sem contato com a realidade. Quando os seus pés tocaram no chão, quando perceberam a realidade, sofreram na frente das cruéis câmeras dos paparazzi.
Com letras conscientes e ligadas à saúde mental e à geração de jovens que tenta encontrar seu próprio espaço em um mundo globalizado, o BTS trata do indivíduo como figura única.
Há alguns anos, a música pop se comunicava com as multidões e falava-se de indústria de massa.
O BTS transcende esta ideia justamente ao olhar para dentro. Os integrantes sabem das pressões de ser um jovem moderno e assinam grande parte de suas próprias canções, diferentemente do pop enlatado que nos fazem engolir nos últimos anos, criados em "fazendas de composição" que reúnem autores de letras que tentam repetir fórmulas baratas.
Os integrantes do grupo cantam o amor-próprio sem parecerem gurus de autoajuda barata. Enquanto os mais velhos repetem frases como "você não tem motivo para ser triste", o cresce o interesse dos jovens para entender seus próprios sentimentos. Os termos angústia, ansiedade e depressão foram buscados 98% mais vezes em 2020, segundo dados do Google.
O que nos leva ao terceiro pilar da revolução do pop do BTS. Por conta da estética fluida e das letras sobre amor-próprio, já citados aqui, a relação que o grupo criou com fãs é de outro mundo.
Ou melhor, é do futuro. O Army, nome dado aos seus seguidores, não é só poderoso, como também se tornou uma arma política, agindo contra racismo e gente como Donald Trump. É uma parte poderosa da revolução do grupo e que age além das fronteiras da música.
Com oito anos de existência, o BTS abriu as portas de uma nova revolução. E ela não tem gênero, tem o indivíduo como figura central e move multidões com alcance que talvez a gente ainda não seja capaz de mensurar.
Preste atenção e verá, na música pop, como aspectos da ascensão do BTS já são notados em novos artistas, nas cores, na fluidez musical, no foco no bem-estar, na estrutura das canções.
E isso tudo não é um atestado de excelência, é de transcendência.
Muitos artistas são gigantes. Poucos são realmente revolucionários.
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