Ed Sheeran e a sensacional arte de errar feio
Sem tempo? Vamos lá!
- Ed Sheeran saiu da caverna e lançou um novo single para o mundo.
- E este é Bad Habits, uma música... Ruim.
- Toda dançante, dinâmica e com refrão chiclete, a música soa de plástico, com timbres oitentista emprestados e uma ginga que Sheeran não tem.
- Tentando ser cool e descolado como The Weeknd, Ed Sheeran acabou como um dos Ursinhos Carinhosos fantasiados para o Dia das Bruxas.
- Bem-vindo ao clube, Ed. O clube daqueles que fazem do erro uma arte.
Com "Bad Habits", novo single, Ed Sheeran mirou no bad boy The Weeknd, que faz tudo parecer cool e descolado, seja o uso de entorpecentes, cantar em um bordel com a cara toda deformada, usar sintetizadores dos anos 80 nas músicas ou vestir ternos com ombreiras.
Mas Sheeran acabou acertando, mesmo, nos Ursinhos Carinhosos fantasiados para o Halloween.
Este é "Bad Habits", novo single do inglês, responsável por interromper um hiato de quatro anos desde ÷ (álbum também chamado de "Devide").
Toda a música (e principalmente clipe) é um tremendo erro. Daqueles tombos que, de tão plásticos, arrancaram risadas do Faustão durante as Videocassetadas (aliás, Faustão, sdds).
Na vida, a gente erra aos montes. Às vezes, notamos na hora. Às vezes, o tempo ajuda a entender.
Eu, mesmo, me arrependo de alguns textos escritos nesta vida (alguns desta coluna até), me arrependo de algumas brigas que não briguei, de outras que estupidamente criei por nada, de goles e tragos a mais. Viver é seguir em frente, mesmo errando, certo?
Por isso, Ed Sheeran faz, do erro, uma poesia. Ou, como disse no título: "A sensacional arte de errar feio". É para poucos.
Novo single, nova estética?
"Bad Habits" é uma baladinha com sons sintéticos, bateria eletrônica e a vibe oitentista. Toda a construção dos versos é bem direta e feita funcionar com a tiktokzação da música, o que é uma das armas disponíveis para o jogo do pop. O gancho é cativante e você até aceita o refrão sobre os tais comportamentos erráticos cantados pelo artista.
Mas tudo soa de plástico. Para mim, ouvir "Bad Habits" dá a mesma impressão de, quando criança, querer muito um brinquedo e encontrar uma versão versão "similar" a qual os meus pais poderiam pagar em uma lojinha de produtos de origem duvidosa no centro de São Paulo, entende?
A tentativa de soar vintage, nesse encontro de Michael Jackson com The Weeknd. Não funciona porque para incorporar tal persona é preciso ter uma voz mais grooveada e capaz de entrar em um flow que não é acompanhado da batida do violão. São construções diferentes, mesmo.
Sheeran já acertou demais no mundo pop. Os discos "+" (2011), "×" (2014) e "÷" (2017), apesar dos títulos insuportáveis (e que me fazem lembrar das aulas de matemática na escola). O último deles, inclusive, elevou o sarrafo quando o inglês trouxe novos elementos à sua estética, com mais percussão e molejo, tipo aquela latinidade percussiva ouvida em "Shape of You". Ali, Sheeran era cativante, sem forçar ser quem ele não é.
E o clipe de "Bad Habits"?
Olha, honestamente me parece que tudo foi feito para parecer ruim de propósito, sabe? Já fiz isso também, com coisas que não estava seguro demais para dar meu melhor e, claro, me arrependi.
Nada perece justificado na narrativa em vídeo de "Bad Habits", a não ser a ideia de que os hábitos ruins cantados pelo artista costumeiramente venham à noite.
Ex-fofo?
Sheeran criou toda esta jornada de "Bad Habits", com nova linguagem, nova sonoridade, letras confessionais sobre excessos e tudo mais, para mudar a forma como as pessoas o enxergam.
Quis justamente deixar de ser o fofinho, certo? Na entrevista para o Fantástico, exibida domingo (27), Sheeran disse que escreveu uma música para a filha, bastante "fofa", mas que não lançaria como single.
Claro, ele agora é o bad boy. E a repórter Ana Carolina Raimundi chama-o justamente do quê? "Fofo". Hahahá. Adorei!
Infelizmente, Ed, não existe ex-fofo. Quer dizer, é uma transformação possível, mas não muito saudável. É por isso, entre outros motivos, que esta nova narrativa não emplaca.
O melhor é aceitar o erro, abraçá-lo. Transformar o tombo em arte é ressignificar a própria bobagem. Afinal, muitos erram, poucos são os que mudam a música pop com suas cagad*s.
E espero, realmente, que o novo álbum seja um acerto como os anteriores e me pegue dançando "Bad Habits" no próximo show em São Paulo rodeado de fãs vestidos de vampirinhos. E, daí, este texto será a representação da "sensacional arte de errar feio" que atualmente é o novo single.
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