Música inédita de Cazuza canta o "wild side" nem tão selvagem assim do Rio
Sem tempo?
- Uma música inédita na voz de Cazuza? Temos!
- Trinta e quatro anos depois de gravada, "Mina" ganha as plataformas digitais na semana em completaram 31 anos da morte do artista.
- A faixa não é uma canção de amor, pelo contrário, é uma crônica urbana.
- A composição, criada por Cazuza, Nilo Romero e George Israel, foi criada para o álbum de 1987, mas acabou deixada de lado.
- Depois de ganhar versões de Leo Jaime e do próprio George Israel, a voz de Cazuza ganha as plataformas de streaming.
O dia 7 de julho tem uma melancolia, não é? Foi nesta data, em 1990, que perdemos Cazuza. É vazio que fica, mesmo, eu entendo. Sofro por ídolos que se foram, caso de John Lennon e David Bowie, como se fossem amigos perdidos. Em tempos sombrios como estes, em que a poesia do Agenor faria tão bem, a ausência parece ainda mais sentida.
Mas o 7 de julho deste 2021 trouxe uma boa notícia: uma música de Cazuza inédia na voz do artista ganharia vida em dias depois.
Esta é "Mina", faixa composta por Cazuza, George Israel e Nilo Romero, que chegou hoje às plataformas.
E não pense que mergulharemos em versos românticos, deliciosamente exagerados e hiperbólicos aqui. O que temos é um gostinho do Cazuza pés no chão, vida real, o cronista de uma noite qualquer e, ao mesmo tempo, muito louca.
"Mina" é narrada do ponto de vista de um homem moralista insignificante, que percebe ao longo da noite o próprio tamanho. Este personagem tem a voz de Cazuza, mas não entenda errado, a protagonista real da música é a garota que confronta o sujeito. Aí está a genialidade da história.
A estrela é ela, a Mina, aquela que está em outra, que vive dona do próprio nariz, íntima de quem quiser e tirando o sujeito do sério por não se submeter às imposições sociais. Rainha da barra pesada, como diz a canção.
Cazuza está na sua melhor forma. É aqui um cronista nos moldes de Lou Reed em "Walking on the Wild Side" (em uma versão menos "wild", evidentemente), retratando o Baixo Leblon dos anos 1980, a partir de uma história que vivida por ele.
Nilo Romero, responsável por produzir o álbum "Ideologia" (1988) ao lado do próprio Cazuza e o mestre Ezequiel Neves, e um dos autores da canção conta o que houve:
"Saímos pra comer uma pizza e a determinada altura apareceu um cara querendo mandar numa das meninas que estava ali. 'Esse aí me viu crescer e acha que é meu dono', ela disse. Lá pelas tantas, o cara pegou uma faca, Cazuza defendeu todo mundo, jogou uma mesa nele, o segurança chegou? Um tempo depois, veio 'Mina'."
A composição foi criada para o álbum de 1987, "Só se For a Dois", mas não entrou na versão do disco que apresentou "O Nosso Amor a Gente Inventa (Uma Estória Romântica)".
Nilo, que tocou baixo naquele disco, dá mais detalhes:
"Eu e George tínhamos uma mesinha de quatro canais, que gravava em fita cassete, e vivíamos fazendo músicas, gravando ali e dando as fitas pro Cazuza. Ele era uma usina de fazer letra. Quando ele ouvia já cantava alguma coisa na hora, levava a fita e no dia seguinte trazia a letra pronta. Podia mexer depois, mas nunca sofria pra fazer, era muito solto."
A música já está disponível nas plataformas digitais e o vídeo, assinado pelo também músico Humberto Barros, chega no YouTube a partir das 16h de hoje.
É importante dizer/lembrar que "Mina" é inédita, sim, mas na voz de Cazuza. A faixa já foi gravada por Leo Jaime, no álbum "Sexo Drops & Rock N Roll", de 1990, e Israel também gravou a canção em 2007.
Este registro de Cazuza tem um arranjo refeito pelo Nilo e traz uma vibe oitentista legítima.
Tão anos 80 e, ao mesmo tempo, tão atual. Como é bom ouvir Cazuza narrar uma história cheia de detalhes, nuances e viradas. E o conservadorismo que volte da night sozinho para casa, pois Mina estará sempre bem acompanhada dos piores tipos possíveis. Ainda bem.
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