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Pedro Antunes

O pop reaprende a sorrir com Lorde e Billie Eilish

Como é bom ver o pop sorrir de novo com Billie Eilish e Lorde - Montagem: Pedro Antunes
Como é bom ver o pop sorrir de novo com Billie Eilish e Lorde Imagem: Montagem: Pedro Antunes

Colunista do UOL

04/08/2021 17h39

"Eu tinha 15 anos na época", diz a neozelandesa Lorde ao The New York Times, sobre o período em que escreve "Royals", o primeiro hit dela, um pop gótico maliciosamente dançante e soturno.

A artista segue explicando que, na época, tudo era mais sombrio. O que faz sentido.

Há quem lembre da adolescência como essa época feliz e sorridente, mas pergunte a um adolescente se ele concorda com isso. Embora os jovens privilegiados não tenham boletos chegando com seus nomes, a adolescência é uma época de descobertas e de toneladas de inseguranças.

"Royals" e todas as composições de Lorde da época vinham dessa grande anomalia hormonal e sentimental que é encarar o monstro da vida adulta.

Não é de se surpreender que, passado o período mais turbulento, Lorde se permita sorrir. Esteja à vontade com quem é, com seu corpo, com sua autoestima, com sua musicalidade, a ponto de experimentar o novo.

Eis "Solar Power", o álbum previsto o dia 20 de agosto, o terceiro disco da artista, com uma capa que traz muito mais pele exposta e um céu azul de dar inveja (principalmente durante estas tardes frias de inverno paulistano).

Na música que dá título ao disco, Lorde diz odiar o inverno. Ela quer mais é curtir o verão e a tal "força solar" que move corpos para lá e para cá, faz escorrer aquela gotinha de suor no copo de cerveja e que coloca automaticamente um sorriso no nosso rosto.

Há de se pensar que talvez o pop tenha ficado sério demais. E, por um tempo, ficou, mesmo. E a "darkest hour", hora mais sombria, foi "When We All Fall Asleep, Where Do We Go?", de 2020, lançado por Billie Eilish.

Coincidentemente, a autora de hinos de nighmare pop como "bad guy" e "when the party's over", também era do time sub-18 do pop quando criou estas canções.

Com este álbum, que rendeu vitórias no Grammy como Artista Revelação, Álbum do Ano e Melhor Álbum Vocal Pop, o pop sombrio chegou no limite.

E, então, veio a pandemia e as coisas ficaram sérias de verdade. Curiosamente, os grandes álbuns do pop de 2020 já foram mais eletrizantes, como After Hour, de The Weeknd, e Future Nostalgia, de Dua Lipa.

É o que dizem, depois da hora mais escura, vem o novo dia. E cá estamos, em 2021.

Billie Eilish lançou clipes de "Happier Than Ever", o segundo álbum, em que até sorria e se divertia com as amigas. Nada mais de lágrimas negras e pesadelos horripilantes, percebem?

"Happier Than Ever" não é um disco feliz, veja bem, mas Billie Eilish já descobriu a melhor parte da adolescência. Que é quando ela acaba. E, com isso, ela se libera a ser mais quem é, apesar de ainda carregar toda a pressão do mercado fonográfico nas suas costas.

Billie se permite sorrir, se permite chorar, se permite sentir tudo isso, entende? A mesma transformação leva Lorde para as praias e para as versões mais sorridentes de si mesma.

A vida adulta é dura, não vou mentir, mas também é ótima. E o pop agradece pelos novos e bem-vindos sorrisos.