Sérgio Reis definha sozinho por culpa própria, na música e na política
Talvez um ou dois anos atrás, se um artista como Sérgio Reis, veterano, ex-ídolo sertanejo e atualmente militante bolsonarista, disparasse falas antidemocráticas em uma convocação para retirar os ministros do Supremo Tribunal Federal "na marra" e citasse atos violentos como "invadir" e "quebrar tudo", a repercussão seria outra. Possivelmente mais pessoas teriam coragem de se aliar ao também ex-deputado.
Mas não foi o que aconteceu.
Em vez de insuflar um movimento perigoso, Sérgio Reis se tornou alvo de investigação da Polícia Federal e "perdeu" um disco.
Há cinco anos Reis e o filho, Marco Bavini, trabalham em um álbum com parcerias. Este projeto foi engavetado, segundo confirmou o repórter Felipe Pinheiro, do UOL, sem qualquer previsão de lançamento após o estardalhaço causado pelas atitudes do sertanejo.
Há quem diga que música e política não se misturam. Bobagem sem tamanho. Os maiores artistas se envolveram com politica até a ponta do fio de cabelo, seja em canções, em conceitos ou em discursos.
E Sérgio Reis abriu mão de qualquer prerrogativa de ser "só um músico" quando, em 2014, foi puxado pela alta votação de Celso Russomanno e se transformou em deputado federal pelo PRB em São Paulo.
Portanto, a estrela sertaneja que ganhou Grammy Latino e emocionou o interiorzão do Brasil com "Menino da Porteira" não poderia dizer que não sabia que toda ação gera uma reação.
Em um mercado como a música atual, parcerias são frágeis. No mar de 60 mil novas músicas publicadas por dia nas plataformas de streaming, cada um se segura como pode na própria jangada. Ninguém estende a mão para alguém com a jangada furada.
E foi o próprio Sérgio Reis o responsável pelo buraco que do seu barco. Graças a isso, Zé Ramalho, Maria Rita, Guilherme Arantes, Guarabyra e Anastácia foram anunciando, hora a hora, que não seguiriam com a parceria prometida com o sertanejo.
Hoje, aliás, a coluna de Ancelmo Gois revelou outra participação cancelada, a de Dori Caymmi.
A única participação conhecida e até então mantida era da cantora Paula Fernandes.
Sérgio Reis não encontrou respaldo ou colete salva-vidas nesta história.
Ninguém mais afunda junto
Embora Reis já fosse conhecidamente um militante bolsonarista, ele ainda não havia cruzado a perigosa linha de expor ideais antidemocráticos. Há uma diferença importante entre liberdade de expressão e propor o fim do regime político baseado na escolha pelo voto.
O sertanejo pagou pela própria língua ao supor que as palavras não teriam o peso que têm.
Em entrevista ao programa "Domingo Espetacular", da TV Record, Sérgio explicou ao jornalista Roberto Cabrini como não imaginava que os áudios vazados tomariam tal dimensão.
Oras, nem o menino da porteira seria tão inocente. Ou seria?
Parte do que passa Sérgio Reis em 2021 foi vivido por Wilson Simonal, no início dos anos 1970, quando levou a fama de dedo-duro e aliado da ditadura para o cantor de sucessos como "Nem Vem Que Não Tem". Diferentemente de Simonal, os áudios de Sérgio Reis estão aí como prova da história.
A cultura do cancelamento e a bipolaridade política atual só deixou o mercado da música mais atento e fragilizou ainda mais a relação entre artistas. A qualquer sinal de ruído é melhor cair fora antes de ser tragado para baixo também.
Se a velocidade com a qual Sérgio Reis foi isolado fosse usada no Brasil quando a Covid-19 chegou por aqui, quantas vidas seriam salvas?
Ah, mas na época o presidente defendido pelo sertanejo disse se tratar de uma gripezinha.
Agora, resta a triste imagem de Sérgio Reis na cama, amuado, dizendo-se arrependido e, principalmente, abandonado. Na política e na música.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.