Qual é o futuro dos Rolling Stones sem Charlie Watts?
Quando enfim aceitou o convite para ingressar nos Rolling Stones, meses depois, um Charlie Watts de 21 anos explicou ao quase adolescente Keith Richards o que o motivou a deixar a Blues Incorporated, banda que fazia algum sucesso na noite londrina, e se juntar àqueles caras:
"Você é um ótimo guitarrista, mas precisa de um put* de um baterista."
Já escrevi aqui como Charlie Watts, dono de uma precisão ótima e uma batida única no instrumento, foi o "put* baterista" até os seus 80 anos. A morte do inglês na última terça (24) encerra uma história de quase seis décadas acompanhando os Rolling Stones.
Watts não era "membro fundador", com todo o peso que costumam dar a esta expressão no caso de bandas longevas, mas era como se fosse o caso.
Afinal, foi sua capacidade de enquadrar as forças díspares de Mick Jagger, Brian Jones e, principalmente, Keith Richards, que transformou os Stones na banda que conhecemos desde aquele janeiro de 1963.
Inclusive, os outros Stones até consideram este o ano correto de início da banda, quando Watts realmente ingressou no grupo, em vez de 1962.
Pouco antes de morrer, Watts havia anunciado que não integraria a última parte da turnê "No Filter', uma perna da tour que seria realizada em 2020 e acabou adiada por conta da Covid-19 para setembro a novembro deste ano.
Ele revelou ter realizado uma cirurgia (sem dar mais detalhes) e que perdera um pouco o ritmo. Em vez de correr o risco de um novo cancelamento, Watts preferiu deixar a banqueta vaga para Steve Jordan.
O músico escolhido é conhecido dos caras. Tocou com Keith Richards no projeto X-Pensive Winos, compôs músicas com o guitarrista e também integrou a banda de John Mayer, um artista pop conhecido pelo gosto por jams e apreciador de grandes músicos de estúdio.
Jordan, contudo, é o oposto de Watts. É um músico em expansão, que gosta de tocar com uma bateria com mais adereços e tudo mais.
A banda anunciou que seguirá com a turnê de 2021, em homenagem a Watts.
Os Stones lidam com o luto com a única coisa que sabem fazer: subindo em um palco e tocando em alto volume. Em 3 de julho de 1969, por exemplo, o guitarrista Brian Jones foi encontrado morto na piscina, semanas depois de ser despedido por Jagger e Richards. E, alguns dias depois, o grupo se apresentou no Hyde Park em uma apresentação histórica que virou o filme "The Stones in the Park". E, veja bem, Jones era fundador do grupo.
Mas e depois? Qual é o futuro dos Rolling Stones?
O mais velho dos Stones há tempos reclamava das turnês. Dizia preferir tocar em estádios só porque mais pessoas poderiam assisti-los de uma só vez (em vez de fazer uma porção de shows menores) e não gostava de viver entre malas de viagem. O que faz sentido também para quem passou mais de 50 anos nesta vida.
Pessoalmente, gosto de pensar que a turnê mais recente do grupo pelo Brasil (e possivelmente a última pela América do Sul a não ser que o mercado de shows gringos reascenda vertiginosamente no próximo par de anos), em 2016, tinha Watts na bateria, colocando tudo em ordem como sempre.
Diferentemente do antigo baterista, contudo, Mick (78 anos), Keith (77) e Ron Wood (74) sempre foram fominhas de palco. E o ano de 2022 marca os 60 anos de Stones (se considerarmos o início da banda antes de Watts). Mais um motivo para a banda fazer mais uma turnê de celebração.
Em setembro de 2020, enquanto o mundo ainda não sabia como sairíamos da pandemia da Covid-19 (se é que hoje já sabemos), Keith disse não imaginar os Stones aposentados de vez.
"Eu não imagino fazer qualquer outra coisa. Você pode chamar isso de hábito. Quero dizer, é isso que nós fazemos [tocar em shows e seguir com a banda]. E também há algo entre nós do tipo: 'Quem vai ser o primeiro a pedir para sair? Ou você foi chutado ou desistiu?' Então, é por aí."
Keith Richards, à Rolling Stone EUA
Na mesma entrevista, Richards revelou que o grupo trabalhava com algumas músicas inéditas.
"Acho que temos cinco, seis e sete músicas que estávamos montando. Atualmente [em setembro de 2020], estamos vendo como as coisas acontecerão, talvez a gente pense em soltar algo de outro jeito."
Vem disco de inéditas com partes gravadas por Watts? Ou uma turnê de celebração dos 60 anos da banda, como um último grande giro mundial? Embora esteja tudo aberto, é possível que as duas possibilidades se realizem, a depender do controle da pandemia do coronavírus, se os Stones se sentirem confiantes para se reunirem em estúdio e as turnês gigantes voltarem com força.
Por enquanto, além destes shows nos Estados Unidos, o grupo realiza um trabalho intenso de olhar para o passado, para performances históricas, shows magníficos e relançamentos especiais dos álbuns essenciais, como "Tattoo You", de 1981, celebrado neste 2021.
O que faz sentido. O tempo, afinal, é implacável imparável. Não freia nem diante do furacão dos Stones.
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