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Porta dos Fundos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Carta aberta ao meu chefe, Fabio Porchat

Um dos raros registros do humorista calmo - Divulgação
Um dos raros registros do humorista calmo Imagem: Divulgação

Colunista do UOL*

25/09/2021 11h00

Aos cuidados do senhor Fabio Porchat,

Venho por meio desta informar meu desligamento das funções de redator do humorístico Porta dos Fundos. Muitas pessoas me questionam como é trabalhar nesta empresa, e abaixo vai um relato sincero e sem medo do que pode acontecer.

Poucos sabem o que rola nos bastidores do humorístico e de como Fabio Porchat trata seus funcionários. Relutei muito para escrever essa coluna, tive que subornar o UOL com dois furos jornalísticos, e distrair meu editor inventando uma crise do Porta com a igreja evangélica, de novo, para que pudesse subir o texto na íntegra sem cortes.

Primeiro de tudo é preciso que todos tomem conhecimento da forma como Fabio trata seus funcionários. Vamos começar pela vestimenta. Por três longos anos tive que me pintar de azul toda vez que chegava ao escritório. Desenvolvi três tipos diferentes de alergia e tem guache por partes do meu corpo que eu nem alcanço. Do financeiro ao criativo, todos tinham que andar lambuzados de tinta no escritório. Fora o constrangimento de toda quarta às sete da noite ele separar todos num canto e tecer xingamentos tais quais foram feitos na famosa esquete.

Se pensa que parou por aí, está enganado. Você já deve ter-se perguntado, como esse Fabio Porchat aparece em tantos lugares diferentes, mas tem sempre tempo para um novo projeto? Eu respondo: Exploração! Ele obriga determinados funcionários de porte similar ao seu a se vestirem igual a ele e frequentarem os mais inóspitos lugares, como programas da RedeTV, camarins de clube de comédia de São Paulo e gabinetes do PSOL.

Mudando de assunto, eis aqui a nova esquete do Porta dos Fundos, que não tem absolutamente nada a ver com isso.

Voltando ao assunto, é de conhecimento geral que nosso chefe é um praticante fiel do ateísmo. O que não se sabe é que Porchat obriga seus redatores a crer em suas ideias, e semanalmente conduz leituras forçadas de Karl Marx, Joseph Engels e Tico Santa Cruz. Em nosso escritório estão proibidas expressões como "meu Deus", "Jesus amado", "Deus te ouça", "vai com Deus", "Crendeuspai" e "Record". Essa última, segundo ele, não por relação a religião.

Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visam o bem comum. Nunca foi minha intenção chegar a esse ponto, mas sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais visando a manutenção da harmonia, porém isso não foi conseguido.

Por fim, peço para manter o anonimato desta carta, para que eu não sofra represálias e que a mensagem chegue até ao referente sem ruídos. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.

*Matheus Mad é ex-roteirista do Porta dos Fundos e comediante. No Instagram: @omatheusmad
Michel Temer é ex-presidente da República. No Instagram: @micheltemeroficial