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Porta dos Fundos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vários sentimentos importantes não têm nome. Isso acaba agora

"Vou chamar de variante Marcela" - Reprodução
"Vou chamar de variante Marcela" Imagem: Reprodução

Colunista do UOL*

11/10/2021 11h00

Tudo deveria ter um nome, e isso não é uma banalidade. Vivemos em uma época onde até as tempestade têm nomes, como Katrina, Bertha e Sérgio (errata: não existe nenhum furacão chamado Sérgio, mas poderia), afinal, ninguém quer perder o carro e a casa para uma força da natureza indigente, é muito melhor perder tudo por causa do Sérgio (errata: ainda nada de Sérgio).

Então, em um mundo onde tempestades, doenças e até variantes da covid-19 têm nomes, por que não nomearmos sentimentos? Não estou falando dos sentimentos mainstream como amor, felicidade, medo etc., mas sim daqueles sentimentos comuns que não sabemos descrever direito.

A nossa língua tem algumas palavras que pertencem somente a nós, como cafuné, saudade e brochar. Por que não aumentar esse repertório? Aqui vai uma pequena lista com sugestões de nomes pra coisas que você com certeza já sentiu:

JAIME: Aquela sensação estranha de querer comer alguma coisa e não saber o que é.
Exemplo: "Nossa, tô muito Jaime? Será que eu quero uma pizza ou um iogurte já resolve?"

ROBSON: Quando você não está bem e nem péssimo, é simplesmente o fato de existir. Sentimento muito comum quando se vai ao banco.
Exemplo: "Tô Robson? Acho que vou ver uma série."

AMILTON: O sentimento de acordar no meio da noite achando que seu agiota invadiu sua casa para cobrar uma divida que está há muitos meses em atraso.
Exemplo: "Meu Deus, que Amilton. Preciso pular a janela e tentar fugir"

REBECA: A angústia específica de ter postado algo numa rede social e ninguém interagir.
Exemplo: "Fechei meu Facebook. Era uma Rebeca atrás da outra, não aguentava mais."

TULIO: A dor de sentir um rim sendo retirado dentro de uma banheira de gelo depois de descobrir que aquele encontro do Tinder era uma armadilha.
Exemplo: [não tem exemplo, provavelmente você estaria desmaiado]

JULIANO: Aquela sensação de pura raiva quando se lembra que seu amigo pegou sua coleção de DVDs do Seinfeld emprestado e não devolveu até hoje.
Exemplo: [Não tem exemplo, estou falando com você Juliano, devolva minhas coisas ou chamarei a polícia]

Enfim, vamos usar mais a nossa língua, explorar mais o sentido e a definição das coisas. Por que parar na definição da disfunção erétil? Vamos inovar! Se pessoas criativas nunca ousassem, jamais teríamos grandes nomes hoje em dia, como cuscuz e Sérgio (errata: até o final dessa matéria Sérgio ainda não é uma tempestade).

*Jhonatan Marques é humorista e roteirista do Porta dos Fundos. No Instagram: @ojhonatanmarques