Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como sair do óbvio na sua lista de últimos desejos
Pode parecer mórbido, mas se preparar para a morte pode ser uma ótima razão para viver. Já cansamos de ver filmes onde o protagonista já na primeira cena recebe uma sentença de morte do seu médico acompanhada por uma trilha instrumental tristíssima, que faz ele levantar a cabeça, olhar o horizonte e decidir que coisas extraordinárias vai fazer nas próximas duas horas de película.
A coluna de hoje te pergunta: o que está na sua lista de últimos desejos pra fazer antes de bater as botas? Se você pretende que façam um filme sobre elas um dia, é importante incluir um elemento de originalidade, e estamos aqui pra ajudar.
Muitas pessoas de pronto dizem: andar pelado na rua. Um desejo libertador de uma pessoa provavelmente reprimida. Mas se você tem poucos dias de vida, andar pelado na rua é uma das piores opções que você deve fazer. Nudez em público no Brasil é crime. Muito dificilmente você conseguiria sair impune, tem muita gente conservadora na rua, além de correr o risco de ser linchado, você perderia algumas horas numa delegacia lotada sem ar condicionado. E tempo é algo que você não tem de sobra.
Também não aconselhamos o famoso porre homérico. Você de fato vai esquecer tudo que te aflige, porém em noites regadas a bebidas, a revanche da ressaca no dia seguinte dará a impressão que você está morrendo, e já que vai mesmo morrer, por que antecipar o sofrimento?
Experiências radicais como bungee jump ou asa delta soam legais, mas você já pensou em atravessar a favela do Jacarezinho em dia de conflito? Sim, quem sabe que vai morrer, perde o medo de morrer. Então aproveite.
Outra opção fora do óbvio (e do ético talvez, mas últimos desejos têm desconto) é visitar zoológicos clandestinos com animais de grande porte. Faça carinho em tigres, alimente crocodilos. Você descobrirá que gatos são desinteressantes depois de brincar de lutinha com um leão. Pode até ser que eles te ataquem e garantam seu último desejo ali mesmo, mas na maioria das vezes eles estarão dopados então vai rolar até foto no instagram.
Surpreenda. Dê cinco mil reais para moradores de rua, dance macarena e quando for jantar, pague a conta do salão inteiro sem se identificar. Quando se está para morrer é legal brincar de Deus, e como diz o poeta, "Deus é o capitalismo".
Como nos filmes, você tem duas opções. Fazer da sua história um drama ou uma comédia. Chorar como naqueles filmes cinzas, com poucos atores e pouca maquiagem; ou um remake de Se Beber Não Case com Ópera do Malandro.
Porém, antes de cumprir todas as sugestões da coluna de hoje, tenha a certeza absoluta que você vai morrer. Digo, morrer em breve. Porque assim como nos filmes, os diagnósticos podem estar trocados e tumores podem desaparecer sem qualquer explicação racional. E você que estava vivendo como se não houvesse amanhã, descobrirá que ainda terá muitos amanhãs e boletos pela frente. E se Deus é o capitalismo, o diabo é o cartão de crédito.
*Pedro Uchoa é assistente de roteiro do Porta dos Fundos. No Instagram: @pedrouchoam
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