Fingi ser astróloga por um ano e ninguém percebeu; aprenda como

Eu já passei um ano fingindo ser astróloga. Não me orgulho disso, mas resolvi confessar aqui. Foi em um jornal de uma cidade pequena do litoral paulista, quase início dos anos 2000. Eu era estudante de jornalismo e sentava na mesinha anexa ao cara mais sem graça da redação. Minha única ambição naquela época era não cobrir as páginas policiais ou sindicais (por motivos de horror e muitos gritos).

Se os astros de fato influenciam tudo em nossas vidas, devem ter se alinhado de forma especialmente irônica quando meu então editor-chefe veio me dizer:

- Você hoje escreve os signos, ok?

Horrorizada, respondi "Eu? Signos?"

- É! A previsão! A astróloga não mandou e precisamos publicar. Pode usar sua criatividade. Você tem uma hora.

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Justo eu, que sempre contei com aquelas cinco ou seis linhas para pautar o meu dia e estado de espírito. Depois desse momento (que se repetiu muitas vezes ao longo de um ano, com zero reclamações dos leitores), a astrologia nunca mais me guiou. Considerando como o campo se abriu para terraplanistas e supostos filósofos ultimamente, não me arrependo muito.

E foi assim que descobri ser possível não saber nada sobre signos, mas dar previsões como se soubesse. Por isso, acredite! Você também pode. Basta seguir um roteiro-guia e ir aliviando um pouco para cada um (ou piorando - dependendo do seu estado de espírito). Em termos práticos, esse era o meu guia:

Áries: pessoa do mal e meu pai
Touro: combina com meu signo no amor
Gêmeos: bipolar e minha mãe
Câncer: familiar e nome de doença grave
Leão: egocêntrico
Virgem: tem TOC
Libra: problemático
Escorpião: sexual e revoltado
Sagitário: místico
Capricórnio: pão-duro
Aquário: perdido
Peixes: chorão

Ou seja, se você precisa dar uma previsão para o signo de Escorpião no dia de hoje, poderia escrever: Não entre de cabeça em experiências coletivas e desconhecidas. Analise o terreno, respire fundo e mantenha sua serenidade. Ou para um capricorniano: Não dê ouvidos a falsos amigos, mas não abra mão de seu caráter. Você pode e merece mais. E mesmo para uma pessoa de Gêmeos qualquer: Pense antes de falar, não se aborreça à toa com quem você ama. A arte é sorrir mesmo quando você está errada.

Estou dizendo que astrologia é uma grande picaretagem? De forma alguma. Todas as áreas têm seus farsantes (como eu naquela época) e pessoas que falam a verdade (como eu agora). E para ouvir mais gente do segundo grupo, indico a maravilhosa Márcia Sensitiva que, além de melhor capacitada, ainda lhe fará rir em uma conversa com o Rafael Infante no podcast Boto Fé, que acaba de estrear na Deezer.

Toda semana, Rafa vai falar com um especialista sobre um diferente tema místico, de reiki a coach quântico, de terapias xamânicas a Hoponoppono. Mas nessas áreas, para a sorte de todos os envolvidos, eu nunca tentei profissionalização.

* Juliana Rodrigues é roteirista, coordenadora de conteúdo do Porta dos Fundos e ex-astróloga