Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Tapa no Oscar comprova: limite do humor é o lugar onde você senta no teatro
Tenho um amigo empresário de sucesso da comédia carioca que diz que "Improviso é abismo". Chris Rock e Will Smith que o digam.
Will foi um homão da porra ao defender a honra da sua mulher? Jada conseguiria ter se defendido sozinha? Chris sabia da doença de Jada? Will Smith poderia participar de campeonatos de tapa na cara? Nada disso importa, o que importa mesmo nessa discussão toda é: qual é o melhor lugar para sentar em um show de stand-up?
Para nós, que queremos passar desapercebidos tal qual os escândalos do governo atual, a primeira fileira nunca é uma opção. Sempre existe a enorme chance de alguém em cima do palco perguntar "veio de onde?", "é casada há quanto tempo?", e só de pensar nessa possibilidade uma parte de mim quase concorda com Will Smith.
Eu tenho absoluto pavor de que um dia isso aconteça comigo, mas a minha vontade de ver uma obra-prima como "Roda Viva", peça conhecida por deixar o público tenso com interações, me fazem vencer essa fobia. Mas caso eu seja obrigada a fazer parte da peça, meu plano é fingir desmaio, a única habilidade teatral com a qual eu consigo me comprometer. Também acho que um desmaio seria a melhor reação para Chris Rock depois do tabefe.
Caso você tenha alguma habilidade para atuar melhor do que a minha, eu diria que esse é o seu momento. Se joga, rouba a cena do ator! Vai que você é descoberto por algum diretor na plateia, vira um ator consagrado e acaba banido de um Oscar. Eu adoraria ter essa chance, já que significaria que ao menos eu fui convidada.
Mas, se você, assim como eu, prefere fazer com maestria o seu papel de espectador e não gosta de trabalhar sem receber para isso, meu conselho é sente-se no meio e atrás de alguém mais estranho que você, isso ofuscará a visão do comediante que fará cinco minutos de piada zoando a franja torta da pessoa que está na sua frente. Mas por via das dúvidas, meu conselho é ler o livro do Will Smith sobre como controlar suas emoções, antes de se expor a este tipo de arte.
Mas não é só o público que precisa temer esse tipo de situação, um comediante também corre sérios riscos de alguém do público querer interagir com a sua cara. O que nos traz de volta a questão essencial desse texto: Will Smith tinha razão?
Acredito que não exista uma resposta simples para essa pergunta, e antes que a gente possa pensar em alguma, tudo vai ser esquecido quando outro caso maluco tomar proporções desnecessárias. A lição que se tira é: nunca sente na primeira fileira, conceito bem ilustrado nessa esquete do Porta dos Fundos.
*Thatiana Guimarães é roteirista do Porta dos Fundos e acredita que se o Will Smith fosse um homem branco, ele não teria sido tão severamente punido. No Instagram: @thatisuigeneris
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