Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Não existe amor em SP, nem tempo pra dois beijinhos
Você sabe o que um paulista e um golfinho fugindo de um navio pesqueiro têm em comum? Os dois não param, com a única diferença de que o golfinho aproveita a paisagem.
O estereótipo do paulista apressado é tão verdadeiro quanto o do mineiro ter sotaque fofo. Alguns dizem que o coelho branco de "Alice no País das Maravilhas" era natural da Mooca, e só se atrasou porque o Metrô sentido Paraíso, perto de Maravilhas, ficou parado por alguns minutos por causa de um objeto na via. Assim como a poluição, a pressa faz parte do DNA do paulista.
Muitos dos nossos costumes foram moldados pela "correria" do dia a dia. Por exemplo, somos o único lugar do Brasil que achou uma boa ideia andar de patinete em uma das avenidas mais movimentadas do mundo. A ideia não deu muito certo, o tempo que economizamos andando de patinete, gastamos indo para o hospital e processando a empresa que fornecia os patinetes.
Outro costume que foi adquirido pela vontade de ganhar tempo foi o café pingado servido em copos descartáveis minúsculos. Tomar café em um copo de tamanho normal é um desperdício, segundo os paulistas. O tempo que economizamos tomando 15 copinhos de café ao invés de um de tamanho médio, equivale ao tempo de espera de comprar um saquinho de pão de queijo na estação de metrô sem se atrasar para o trabalho.
Muita gente acha que não colocamos catchup na pizza porque somos chatos e caga-regras, mas na verdade, você já percebeu quanto tempo demora para o molho sair da embalagem? O plano original era comer pizza crua e chamar de "sushi paulista", mas não vendeu tão bem quanto o esperado, e se tem algo que paulista preza mais que tempo, é dinheiro.
Ainda na culinária, o cuscuz paulista é a maior prova de que não temos tempo nem pra deixar uma comida bonita. Nem gostosa. Não faço ideia de quem inventou essa iguaria, mas posso te dizer com certeza que ele estava com pressa.
E isso afeta até os nosso modos. Não me entendam mal, a grande maioria dos paulistas responde um "bom dia", mas não espere muito mais que isso. Diferente dos nossos amigos cariocas, não cedemos a pressão social dos dois beijinhos, aqui é um beijo só. Mostramos o nosso afeto se atrasando pontualmente para os nossos compromissos mais importantes. E é disso que fala a esquete do Porta dos Fundos de hoje.
E lembre-se, não se intimide com paulistas. Nós estamos sempre dispostos a conversar sobre várias coisas, se você nos acompanhar no caminho para o trabalho.
*Jhonatan Marques é comediante e roteirista do Porta dos Fundos, e tá super na correria, depois a gente se fala. No Instagram: @ojhonatanmarques
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