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Porta dos Fundos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Assalto é patrimônio turístico do Rio de Janeiro; saiba aproveitar

Esquete do Porta dos Fundos - Divulgação
Esquete do Porta dos Fundos Imagem: Divulgação

Pedro Uchoa

Colunista do UOL

28/05/2022 11h00

O que o Rio de Janeiro tem de beleza natural e paisagens exuberantes, o carioca tem de arrogante, o que claramente não só faz parte do nosso charme, mas também do instinto de sobrevivência, porque todo mundo sabe que o Rio de Janeiro não é para amadores.

Tem que estar sempre atento. No purgatório da beleza e do caos é que se rouba vigas quilométricas e é assaltado por bandidos que, literalmente, estão armados com ratos. E com a intenção de proporcionar uma ótima experiência traumatizante ao leitor, a coluna de hoje falará sobre esse manual de sobrevivência que é viver dialogando com a cultura do assalto.

Desde criança, todo carioca já é ensinado a sair de casa com o dinheiro do bandido, quase um dízimo. Quem nunca desceu do ônibus achando que ia rolar um assalto? Quem nunca vibrou em só ter perdidos os documentos? Todo carioca vai ter uma boa história de assalto para contar, até casos em que o bandido se comove com a sua dureza e te deixa sair ileso.

As selfies nas praias são um prato cheio para quem sobrevive dessa cultura. Quando você se der por si, seu celular já terá sido vendido na Uruguaiana antes mesmo de você conseguir postar aquela foto clichê de Copacabana com a legenda #nofilter. É um mimo que você deixa para a economia da cidade. Mas se você quer sentir na pele a expressão "não passa nem agulha" experimente atravessar a Avenida Presidente Vargas qualquer hora do dia, nem precisa ser a noite, lá temos uma disciplinada troca de turnos.

Ainda sobre as praias, é lá que somos testemunhas de uma modalidade de assalto que exige um grande esforço coletivo: o arrastão. Esse estilo de crime é um evento tão aguardado quanto o Carnaval. Pessoas assistem da janela de casa. Os policiais já estão prontos desde cedo em cima de seus cavalos. Quem já viveu, sabe que é uma catarse. É tudo ao mesmo tempo. Areia, pessoas correndo, você não sabe para que lado vai, cavalos, mãe procurando filho, gente aproveitando a deixa e indo embora sem pagar a cadeira, sol de quarenta graus, mais areia, bombas, fogos de artifício, gente de verde-amarelo falando que tem que matar, areia de novo, você já não sabe mais se foi assaltado ou se deixou cair alguma coisa na correria, tudo é muito subjetivo terminando com todos juntos aplaudindo o pôr do sol. Uma experiência quase cinematográfica e unicamente carioca.

Temos muitas outras modalidades: dois numa foto sem placa, arma-dedo, assalto terapia, assalto sueco, mão lisa, etc. A lista é infinita, mas o que não pode faltar é o

GENTE, PERDÃO! Tive que parar de escrever o parágrafo acima. Para me inspirar no assunto de hoje, resolvi escrever num café no centro da cidade. E virei estatística. Fui abordado educadamente com o famoso "Perdeu", seguido com "Passa o computador e o celular". Tentei negociar, mas só consegui o cartão do metrô e agora estou aqui terminando a coluna no computador do meu vizinho. Enquanto eu tento bloquear tudo, assista a nova esquete do Porta dos Fundos de hoje.

*Pedro Uchoa é assistente de roteiros do Porta dos Fundos e está procurando um notebook e um celular, semi novo, urgentemente; e no Instagram @pedrouchoam