Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Quem diz que suruba é bom, nunca fez suruba
Suruba é uma ideia interessantíssima. Na teoria. Na prática não há nada de excitante em misturar sexo com organização. Surubas, diferente do que se assume por aí, precisam ser extremamente bem organizadas, do contrário, a distribuição de tarefas fica injusta, e alguém termina com as mãos vazias.
O mito da "suruba espontânea" é a mentira mais bem disseminada desde o cu da Sasha - ou a ausência dele - porque uma suruba não surge meramente da alquimia entre tesão acumulado e disponibilidade de pessoal; para uma suruba acontecer em toda a sua plenitude, é necessário que alguém tenha tido essa ideia em adianto, e traçado um plano para executá-la - pessoa esta que, na maioria das vezes, não seria convidada para uma suruba de terceiros.
A verdade é que a suruba é a mãe dos feios. Pessoas que não teriam pleito suficiente para levarem sozinhos alguém para a cama, precisam diluir a própria presença entre outras 10, e torcer pra ninguém perceber que estão lá. É o equivalente à mãe que bate cenoura no feijão do filho: a ideia é comer sem perceber que está comendo.
Além disso, a suruba é bem menos intuitiva do que se imagina. Em um ato sexual padrão, você é responsável por 2 a 3 buracos, e nada muito além disso. Já a suruba é algo próximo a um trabalho de grupo da faculdade: se tem muita gente responsável, então ninguém é responsável. É possível que você seja o único interessado na sua satisfação pessoal, e chances são de que o seu ideal de sexo coletivo acabe se tornando uma masturbação supervisionada.
A maior dificuldade de uma suruba é a contemplação de que o jogo não tá ganho quando você tira a roupa - apesar de você ter avançado uma fase, você ainda precisa competir pelo interesse dos outros, e essa é uma dinâmica que acaba por escancarar aquela verdade desconcertante que a gente evita a qualquer custo: a de que você tá na base da pirâmide de atratividade. Sobrar em uma festa é ruim, mas sobrar enquanto você está pelado é desmoralizante demais, ninguém deveria passar por isso.
Sem falar que qualquer bom desempenho sexual sempre pode ser sufocado pelo fantasma da comparação. Em uma dinâmica padrão de sexo a dois, essa comparação é menos eminente, mais etérea. Mas ser exposto a um catálogo de tamanhos e manobras ao vivo, durante a sua performance, pode intimidar até aos mais confiantes.
Participar de uma suruba é voltar aos tempos de educação física: você reza para ser escolhido, mas não porque você está ansioso para jogar, mas porque você não quer a humilhação de ficar por último. E talvez a única coisa que vai render disso tudo são algumas boladas na cara.
A conclusão é que suruba é sexo parcelado, com notas de desespero e sensação térmica de rejeição. E para ilustrar o que não se deve fazer, nada melhor do que o vídeo SURUBA do Porta dos Fundos, que foi ao ar nessa segunda-feira.
*Gabriela Niskier é roteirista do Porta dos Fundos, no Instagram: @gabrielaniskier
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.