Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Só a pizza de coxinha explica como o Sudeste vota nas eleições
O Sudeste esbanja belezas, e é preciso estar muito desconectado da própria sensibilidade para não perceber. Como não amar lugares como Carapicuíba, Osasco e Belford Roxo? Acho que essa forma tão sudestina de contemplar belezas é formada graças a experiências muito únicas, como quando saí para pegar um ônibus sozinha pela primeira vez e em menos de meia hora apanhei de uma pomba e uma velha cagou em mim. Também já ouvi falar que no Rio de Janeiro tem um Mogli, o menino taxista, que desistiu de voltar para casa por causa da dificuldade de negociar com motoristas e ficou para sempre lá, sendo criado por eles. Esse tipo de coisa faz a gente ver o mundo com outros olhos.
A culinária sofisticada do Sudeste carrega esse país nas costas. O melhor pão de queijo do Brasil pode ser apreciado na Oscar Freire, em São Paulo, que também é o estado criador do sushi de couve e da pizza de coxinha, enquanto no Rio de Janeiro a melhor comida que existe é o pó. Mas foi o iFood que elevou a experiência gastronômica do Sudeste a outro patamar, já que a gente nem sabe mais como descascar uma batata, porque precisamos trabalhar em três empregos para pagar um aluguel altíssimo no meio da Cracolândia. É que fica perto de tudo.
Aqui no Sudeste nós somos muito diversos. Veja o clássico sotaque do carioca, por exemplo: é bem marcado, fácil de identificar pelo charme de colocar nas palavras letras que não existem. Já o sotaque do paulista é difícil de ser notado, porque ele fica no pé. É aquela pressinha marota de quem precisa pegar um trânsito na Rebouças, uma fila no Poupatempo ou passar uma raiva no metrô. É a urgência de quem carrega o maior PIB do Brasil nas costas. PIB esse que é inversamente proporcional a capacidade do Sudeste de votar com lógica, já que nem tudo pode ser perfeito.
E não, não vou citar Minas nem o Espírito Santo, porque dá para ver pelo mapa que eles estão claramente sendo pressionados por Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro a ficarem no Sudeste. Estão aqui por mera questão geográfica, se fosse por eles já teriam debandado para outros "estes". E esse texto é sobre o povo que honra suas raízes, valoriza suas conquistas e dá o nome de "copo americano" a um copo clássico criado em São Paulo.
PS: Agradeço ao Bidu pelo brainstorm de razões para amar Essepê.
*Thatiana Guimarães é roteirista do Porta dos Fundos. Nascida, criada e estragada na Zona Leste de São Paulo, com muito orgulho, flw, vlw. No Instagram: @thatisuigeneris
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