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Porta dos Fundos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ninguém aguenta mais o jovem, sério

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Imagem: Reprodução

Gabriela Niskier

Colunista do UOL

10/12/2022 11h00

A juventude é superestimada. De que adiante ter fôlego, se isso só serve pra você sentir a falta dele durante os ataques de ansiedade? De que adianta ter energia de sobra, se ninguém precisa de você em lugar nenhum? A gente gasta o nosso primor físico neste momento da vida em que temos a maturidade emocional de uma geleia de mocotó, é praticamente o mesmo que dar uma Harley-Davidson na mão de um chihuahua.

A velhice por outro lado tem sua poesia. Você já fez tudo que tinha pra fazer, já cansou de dar vexame, já cansou de se humilhar, todos os cenários terríveis que você projetava durante a juventude já aconteceram - e de fato foram terríveis, mas se você chegou até aqui é porque você sobreviveu, então alguma coisa deu certo. A liberdade de não ter medo do futuro - porque você não tem muito mais dele de sobra, pra começo de conversa - faz com que a vida fique muito mais tragável.

O problema é do design da coisa, porque de que adianta ter a confiança inabalável de uma mini-miss de Blumenau se você tem os joelhos de um paquiderme. Acho de um sadismo incalculável quem concebeu essa ideia de irmos nos desgastando. O jovem, agraciado com o ápice físico de toda a nossa existência, tá preocupado em saber se alguém notou que ele usou gel no cabelo, mesmo a embalagem dizendo que é efeito invisível. Já o velho passaria gel nos pentelhos e perguntaria pro porteiro o que ele achou, porém ele não consegue descer as escadas até a portaria. E quem perde com isso somos todos nós.

Então quando você critica o jovem por passar o dia dentro de casa, sentado, não desfrutando de toda a aparelhagem física que ele mantém sem esforço algum, é porque a frustração é compreensível, sem sombra de dúvidas. Porém, lembra como é sentir que o seu futuro só depende de você? Que você luta hoje pelas conquistas de amanhã? Que onde você gasta seu presente, vai definir o teu futuro? É o tipo de pensamento que desperta a vontade de se enfiar no vão atrás da geladeira e ficar lá até os músculos atrofiarem.

A conclusão é que a vida não segue uma lógica prática, segue uma lógica sádica. E quanto antes aprendermos a não esperar o copo cheio, antes vamos aceitar que o copo sempre esteve furado para começo de conversa. A busca eterna é pela aceitação daquilo que não podemos mudar, como essa sacanagem da ressaca que fica pior com o tempo, mesmo todos concordando que bebida é mais segura na mão de gente mais velha. Aceitar a gente aceita, mas que dá raiva, dá.

E para ninguém passar raiva sozinho, fiquem com esse vídeo do Porta que tem mais ou menos a ver com o assunto.

*Gabriela Niskier é roteirista do Porta dos Fundos, no Instagram e no Twitter: @gabrielaniskier