Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Séries para siriric, quer dizer, para maratonar
Menina, você viu o duque?
O tom de fofoca, de segredo, passava de mensagem em mensagem pelo WhatsApp no fim de 2020. Para nossa sorte, "o duque" não era o codinome de um deputado corrupto em uma lista qualquer. Era o personagem interpretado pelo ator & gato Regé-Jean Page, que se tornou objeto de desejo ao aparecer fazendo carão, beicinho, carinha de cachorro sem dono e também protagonizando muitas cenas de sexo. A série onde Regé mostrava todo seu talento era "Bridgerton", que se tornou um fenômeno cultural ao bater todos os recordes de audiência na Netflix.
O sexo encenado sempre foi controverso. A pornografia é uma das indústrias mais lucrativas do mundo, mas é criticada pela falta de segurança e de pagamentos decentes para os seus atores e atrizes. O soft porn e o romance erótico são ignorados pela crítica especializada e geralmente ganham fama de cafonas, e seus apreciadores convivem com aquele olhar de desdém condescendente.
Basta lembrar quando a trilogia "50 Tons de Cinza" foi adaptada para o cinema e os críticos colaram o rótulo de "pornô para mães" ou "pornô para donas de casa" —críticas à parte, talvez donas de casa merecessem gozar com um filminho, e isso não é problema nenhum.
As editoras souberam capitalizar muito bem em cima do que hoje em dia é apelidado de "romance safado", lançando séries e mais séries de livros em que o sexo é o protagonista. Mas curiosamente a indústria audiovisual vinha ignorando o fenômeno, e poucas séries premium fizeram do sexo o protagonista de suas tramas —até agora.
Produções recentes, protagonizadas, escritas e dirigidas por mulheres, vêm mudando esse cenário, como a já citada "Bridgerton", mas ela não é a única. Ao contrário do soft porn das madrugadas da TV aberta, a nova onda de séries quentes flerta com gêneros cinematográficos, que usam metalinguagem, são esteticamente sofisticadas e têm tramas interessantes com começo, meio e fim. É praticamente impossível não clicar no botão para ver o próximo episódio.
A série israelense "Losing Alice" (Hot em associação com a Apple TV+) é protagonizada pela atriz Ayelet Zurer, que interpreta uma diretora de cinema bem casada que perdeu o tesão pela profissão até encontrar a história de uma roteirista jovem e misteriosa que a envolve numa trama em que sexo, processo criativo e paranoia se misturam. Criada pela showrunner e diretora gata Sigal Avin, "Losing Alice" mata a nossa saudade de um bom thriller sexy, na melhor tradição dos anos 1990 como "Instinto Selvagem".
A plataforma Starzplay tem uma pequena pérola do gênero. "Little Birds" adapta contos eróticos da icônica escritora Anaïs Nin, que dos anos 1940 até os anos 1970 chocou os intelectuais europeus e norte-americanos ao publicar histórias das mais sujas e safadas.
Dirigida por Stacie Passon, "Little Birds" conta com um visual de tirar o fôlego, figurinos lindos e uma estética de cinema antigo para acompanharmos as trajetórias da herdeira certinha Lucy Savage, que chega ao Tânger para se casar e dá de cara com um marido pouco interessado em sexo, e da prostituta Cherifa Lamour, que ganha seu pão chicoteando e estapeando os poderosos da ocupação francesa.
A cultura pop sempre foi muito boa em dizer como as mulheres deveriam transar, com quem e em que circunstâncias. Conteúdos eróticos com mulheres no comando mostram uma face mais criativa, onírica e excitante do audiovisual, com menos morte e violência e com mais tesão. Que venham mais séries para siriricar, afinal, para os tempos em que vivemos, precisamos de mais do que uma maratona.
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