Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Para que serve um ídolo do humor
A experiência de riso compartilhado é um dos momentos de comunhão humana mais íntimos que existem. É quando intelecto, coração e alma se comunicam e um impulso elétrico do seu cérebro diz: posso relaxar, estou entregue.
O riso exige uma comunicação de afeto e um pacto profundo de confiança entre o espectador e quem está nos fazendo rir. Não à toa desde a Grécia Antiga os autores do teatro de comédia eram considerados gênios e o humor um dom vindo direto do Olimpo. O público viajava de diversas Cidades-Estado para assistir uma única obra e ter o privilégio de rir conjuntamente, em companhia - e saber que ao seu lado na plateia existia um humano, um outro igual.
Fazer isso ao lado de alguém está cada vez mais difícil - vivemos tempos duros, estamos divididos, tristes, magoados. Rir não parece tarefa fácil no Brasil e a profissão do humorista é um alvo político. Poucos profissionais conseguiram alcançar um lugar de cumplicidade no coração do público e conquistar a confiança necessária para fazer rir. Paulo Gustavo era uma dessas pessoas.
Criador da peça Minha Mãe É Uma Peça, conseguiu fazer fama no teatro, o que já é por si só é um ponto fora da curva - os grandes nomes do humor geralmente bombam na tv aberta. Com sua Dona Hermínia ganhando vida no cinema conquistou o status de fenômeno popular, com números superlativos em tempos difíceis para a indústria audiovisual.
Para os críticos, um humor popular demais, com bordão demais, tradicional demais. Para o público, nada disso importava. Paulo Gustavo ocupou um espaço da comédia família, maliciosa e solta. Dialogava diretamente com um afeto íntimo do País e com isso conseguia ser uma trégua de riso num mundo que não consegue mais se enxergar ou conversar. Vai embora de maneira trágica e melancólica no momento onde mais vai fazer falta. Nem o Brasil e nem Paulo Gustavo mereciam um desfecho assim.
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