PL do aborto mostra que ser famoso não basta, é preciso ser relevante
Houve um tempo em que a fama era um status. Ser conhecido nacionalmente ou por um nicho específico, pautar e ser pauta de conversas e ter admiradores eram, em algum nível, uma chancela por um trabalho realizado, conquista e até característica pessoal. Ser chamado de famoso tinha lá sua importância e era motivo de orgulho.
As redes sociais fizeram tudo isso cair por terra. Se por um lado, a internet proporcionou representatividade e nos brindou com novas vozes capazes de provocar reflexões e trazer informações que os grandes veículos não davam conta, por outro, ela escancarou a estupidez humana. Fama se tornou uma commodity.
Num cenário em que esposa quase traída de participante de reality show estampa manchetes de portais de notícias e acumula milhões de seguidores e jovens bonitinhos sem qualificação se tornam referência para uma geração por ganharem popularidade (e muito dinheiro) com vídeos de dancinhas ou com esquetes mal elaboradas, é quase cafona (para não dizer ofensivo) ser famoso. Quem quer fazer parte de uma turma que não tem nada a acrescentar?
A PL do aborto tem servido para mostrar quem vale a pena acompanhar, prestigiar e ouvir nesse mundinho pantanoso dos famosos, como diz Fabíola Reipert. Enquanto uma massa se preocupa em converter novos adeptos ao jogo do tigrinho e outra parcela considerável de celebridades está mais preocupada em usar as redes sociais como templo do próprio ego, algumas personalidades entenderam que de nada adianta o status de celebridade se não usar a notoriedade em prol de algum bem.
No meio de declarações como as do atores Cássia Kis e Juliano Cazarré sobre a PL do aborto, que nos fazem até sentir saudades do tempo que Instagram era apenas um amontoado de looks do dia, de fotos de comida com filtros azulados e gente carente que comentava "sigo de volta e dou like na última foto" repetidas vezes em perfis alheios, foi um alívio ver Ana Paula Padrão, Luciano Huck, Gabriela Prioli, Marcela McGowan, Paulo Vieira e Ana Maria Braga se posicionarem com propriedade sobre essa questão, incentivando suas comunidades a não se calarem diante de um retrocesso que teimam enfiar goela abaixo do povo brasileiro.
Não defendo, nem acredito que as personalidades sejam obrigadas a se posicionar sobre todo tipo de polêmica ou de qualquer assunto corriqueiro. Quem convive nesse meio há muito tempo sabe que a maioria das celebridades não se informa para ser formador de opinião, nem tem a eloquência para argumentar e defender pontos de vistas de maneira embasada e coesa. Mas, diante da iminente normalização do absurdo, não é possível ficar indiferente. Alguma atitude precisa ser tomada, não para o famoso justificar sua fama, mas por ele ser um cidadão comprometido com o bem-estar coletivo.
Com a consolidação das redes sociais como plataforma de autopromoção e de informação, estamos vivenciando uma verdadeira peneira nesse universo da fama. O que vai diferenciar as verdadeiras celebridades nesse panteão de semideuses digitais e televisivos é a relevância. E relevância não se faz apenas com números, selfies produzidas e exploração de uma intimidade vazia. Relevância pressupõe pertinência e conhecimento.
Deixemos de nos importar tanto com os famosos e vamos focar em quem é relevante!
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