Ricky Hiraoka

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Reportagem

Coautora de A Viagem sonha com continuação e negocia série regada a sexo

Toda vez que reprisam a novela A Viagem (1994), Solange Castro Neves, que colaborou com a autora Ivani Ribeiro no remake da trama, sabe que seu telefone irá tocar com pedidos de entrevistas para que ela avalie o sucesso da reexibição do folhetim. Ela acredita que o êxito perdure depois de tanto tempo porque a produção narra uma história bonita e envolvente que consegue dialogar com o público, independentemente da época que a novela é veiculada. "Ivani escrevia histórias que não dependiam do tempo e do espaço para serem compreendidas", diz.

Outra razão do sucesso de A Viagem, segundo Solange, foi o clima nos bastidores. "Ivani ficou muito doente durante a novela e todos se uniram para fazer o melhor trabalho possível em sua homenagem", conta. "Os atores vestiram a camisa, ninguém queria ser maior que o outro. Havia muito companheirismo e zero estrelismo".

Para comentar a nova exibição do folhetim pelo canal Viva e festejar os 30 anos de lançamento da novela, Solange conversou com a coluna.

Relação do público com a novela

Solange afirma que a identificação do público com A Viagem se deve às mensagens que foram passadas através da trama de amor entre Diná (Christiane Torloni), Otávio (Antônio Fagundes) e Alexandre (Guilherme Fontes). "A novela deu várias respostas sobre a vida e a morte, sobre a responsabilidade de nossas escolhas, explicou que a vida não termina aqui na Terra e despertou a consciência espiritual das pessoas."

Solange lembra que, na época da primeira exibição, ela recebia centenas de cartas de espectadores que contavam casos de perdas em suas vidas e como eles conseguiram vencer a dor por conta das lições que aprenderam com A Viagem. Segundo a escritora, o sucesso da novela gerou um efeito inesperado: a taxa de suicídio no Brasil caiu.

"Lembro que recebemos dados que mostravam que o número de suicídios havia diminuído em 1994. As pessoas tinham medo de ter o mesmo destino que o Alexandre, que se matou ao longo da trama e acabou no inferno."

Vidros quebrando em cenas e tratamento inspirado em vida real

Solange conta que a maior parte dos envolvidos com a novela (elenco, direção e produção) não era espírita, nem conhecia em detalhes os dogmas dessa religião. "O Claudio Cavalcanti, que interpretava o Doutor Alberto, um médico espírita, não acreditava nem em Deus. Ele dizia que só tinha fé na natureza", recorda.

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Para evitar que os seguidores da doutrina espírita se ofendessem de alguma maneira, ela fez uma extensa pesquisa para que novela retratasse fielmente os rituais e as práticas do espiritismo. "Às vezes, na pressa de gravar cenas que envolvia alguma coisa ligada à religião, como as sessões de mesa branca comandada por Doutor Alberto, a produção não seguia as orientações que estavam no roteiro e, sempre que isso acontecia, havia relatos de vidros quebrando, luzes estourando durante a filmagem. Era uma confusão!".

Solange lembra que usou uma experiência que vivia na vida real para criar uma das tramas na novela. Com o marido gravemente doente,ela recorreu a uma terapia alternativa à base de cristais para tratá-lo. Na novela, Diná usou a mesma técnica para tentar resolver os problemas de saúde de Otávio.

Novo remake, continuação de A Viagem e musical baseado na novela

Apesar de estarmos vivendo uma era de remakes na TV brasileira, Solange não aposta que A Viagem será refeita tão cedo. "Acho muito difícil um remake de A Viagem dar certo. As recordações da novela estão muito fortes no coração do público", analisa. Solange gostaria mesmo que sua proposta de novela que mostraria a continuação de A Viagem caísse nas graças da Globo.

"Eu tenho uma sinopse que gira em torno da reencarnação de Dina, Otávio e Alexandre", revela a autoras. "Os três nasceriam em famílias diferentes e se reencontrariam para acertar as contas que não conseguiram na vida passada."

Enquanto não emplaca a continuação de A Viagem, Solange espera a estreia do musical baseado na novela, que está prevista para janeiro de 2026. Escrito em parceria com o roteirista Vitor Oliveira, que colaborou no remake de O Astro (2011), e Thalma Bertozzi, o espetáculo preserva a trama principal do folhetim e prevê o uso de músicas que fizeram parte da trilha sonora da trama.

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"No musical, além de Diná, Otávio e Alexandre, quem também aparece é o Mascarado", revela a autora.

Excesso de remakes e falta de novelas espiritualistas

Solange não coloca muita fé que os remakes perdurarão na TV brasileira. Para ela, o motivo é simples: é muito mais difícil um remake dar certo do que uma novela original. "Eu aprendi com Cassiano Gabus Mendes que para um remake funcionar, não se pode mexer na espinhal dorsal da história para não desandar", explica. "E tem histórias que para fazer remake, você precisa mexer muito, aí nada fica em pé, como aconteceu com a nova versão de Elas por Elas. A novela original tinha como grande trama a infidelidade, uma amiga que era amante do marido da outra amiga. Isso, hoje em dia, não é um tema que mobiliza o público."

A autora aposta que é uma questão de tempo até a Globo voltar a investir em novelas com temática espiritualistas, como A Viagem. "Logo, logo eles vão perceber que os espectadores não querem mais uma novela que só tenha triângulos amorosos. As pessoas querem novelas que passem uma mensagem através da trama. Não é à toa que a reprise de Alma Gêmea também está fazendo sucesso", opina.

Passagem pela Record e série sobre mercado financeiro

Afastada das novelas desde que escreveu Roda da Vida para a Record em 2001, Solange guarda boas recordações de sua experiência na emissora. "Tinha liberdade de escrever", afirma. "Em Roda da Vida, tive um personagem gay, por exemplo. O canal até sugeriu que ele se 'curasse', mas expliquei que queria retratar aquele drama como acontece na vida real. As pessoas se assumem homossexuais, sofrem, mas encontram a felicidade e foi isso que mostrei nessa novela."

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Atualmente, Solange desenvolve a série "De Quem é o Dinheiro?", que tem como pano de fundo o mercado financeiro e narra a história de um grande banqueiro que, no auge da vida profissional, perde o filho que tanto ama. "É uma trama que fala de poder, drogas e luxúria", adianta. "Estamos negociando esse projeto com plataformas de streaming."

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