Ricky Hiraoka

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Opinião

Como Alma Gêmea salvou a carreira de Flávia Alessandra

Atores costumam ser alçados ao estrelato em duas situações: ou roubam a cena graças a bons personagens coadjuvantes numa novela e passam a integrar o primeiro time de elenco da Globo, como foi o caso de Giovanna Antonelli após viver Capitu em "Laços de Família" (2000), ou conquistam a chance de defender um dos papéis centrais de uma produção de sucesso, como Camila Queiróz, que estreou em "Verdades Secretas" (2015) e, desde então, coleciona protagonistas na TV e no streaming.

Flávia Alessandra, uma das atrizes mais populares do país, tem uma trajetória diferente. Antes de ser escalada para dar vida à vilã Cristina, de "Alma Gêmea" (2005), ela já tinha em seu currículo três protagonistas: a Lívia de "Meu Bem Querer" (1998), a Lívia de "Porto dos Milagres" (2001) e a Lívia de "O Beijo do Vampiro" (2002). A tríade de Lívias, porém, não trouxe o destaque esperado para a atriz, que teve seu talento ofuscado por um combo que foi comum a essas três novelas: todas as Lívias eram desinteressantes, as tramas dessas produções eram pouco criativas e a repercussão desses folhetins foi praticamente nula.

Flávia Alessandra, que na época era casada com Marcos Paulo, um dos diretores mais celebrados da Globo, não parecia compartilhar da mesma sorte que outras atrizes que também tinham esse título de "mulher de diretor". Helena Ranaldi, que já se destacava desde que surgiu em "Despedida de Solteiro" (1992) e que, infelizmente, anda sumida das novelas, viveu seu melhor momento na TV e mostrou todo seu talento sob a batuta do então marido, Ricardo Waddington, que a dirigiu em "Laços de Família" e "Mulheres Apaixonadas" (2003). Daniela Escobar, que foi casada com Jayme Monjardim, também brilhou em produções comandadas pelo cônjuge, como "O Clone" (2001) e "A Casa das Sete Mulheres" (2003).

Após "O Beijo do Vampiro", as aparições de Flávia Alessandra limitaram-se a pequenas participações em programas, como "Linha Direta" e "Carga Pesada". A carreira de Flávia Alessandra parecia estar estagnada. Só em 2005, já separada de Marcos Paulo, ela voltou às novelas em "Alma Gêmea" e, finalmente, mostrou todo seu potencial.

Cristina (Flávia Alessandra) em Alma Gêmea
Cristina (Flávia Alessandra) em Alma Gêmea Imagem: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Nas mãos de uma atriz menos sagaz e atenta, Cristina teria se tornado apenas uma caricatura digna de um dramalhão mexicano como a Soraya Montenegro, de "Maria do Bairro". Com recursos e esperteza, Flávia Alessandra enxergou a complexidade da personagem e soube construir uma mulher amargurada que variava do amor obsessivo à rejeição, trazendo humanidade para Cristina e, de alguma forma, justificando as atitudes condenáveis da vilã. A atriz ainda deu um toque de ironia a Cristina, o que conferiu um charme a mais à personagem. Na atual reprise de "Alma Gêmea", os traços mais humanos de Cristina têm sido alvo de comentários nas redes sociais. Há até quem brinque que o tempo fez justiça à vilã de Alma Gêmea. O mérito é todo de Flávia Alessandra, que fez de Cristina uma mulher identificável.

A consagração em "Alma Gêmea" garantiu a Flávia Alessandra não apenas o título de atriz de primeiro escalão da Globo, mas também possibilitou que ela vivesse outros bons personagens na teledramaturgia, como a atrapalhada perua Vanessa, de "Pé na Jaca" (2006), a Alzira, uma sacrificada mãe de família que fazia strip-tease para sustentar os filhos em "Duas Caras" (2007), e até a robô Naomi, de "Morde e Assopra" (2011).

Rumores indicam que Flávia Alessandra, afastada das novelas desde 2021, pode voltar às telinhas em 2025 como a vilã Sandra na continuação de "Êta Mundo Bom" (2016). Torcemos para que, nessa possível sequência do folhetim de Walcyr Carrasco, a atriz retorne com tanto sangue nos olhos quanto em 2005 quando viveu Cristina. Sua performance em "Êta Mundo Bom", nem de longe, pode ser considerada seu momento mais inspirado na TV. Nada que lembre, porém, a tríade insossa de Livias que, certamente, nem o mais noveleiro dos telespectadores gosta de lembrar!

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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