Ricky Hiraoka

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Opinião

Homofobia e conservadorismo: está na hora de Emílio Surita se aposentar?

É indiscutível que, em meados dos anos 2000, Emílio Surita renovou os programas de humor ao estrear o Pânico na TV, na Rede TV!.

Inicialmente, o formato se propunha a fazer uma crítica ácida e até nonsense das atrações dominicais de auditório e da cobertura de celebridades feitas pelas emissoras abertas que, naquela época, investiam pesado em matérias sobre eventos sociais com a presença de famosos.

Em seus primeiros anos de vida, o Pânico na TV tinha um caráter contestador, quase anárquico, que fez com que o conteúdo do programa viralizasse muito antes desse termo cair na boca do povo.

Vale ressaltar que, analisando em retrospecto o programa e suas pautas, boa parte do que era produzido pelo Pânico na TV em seus dez primeiros anos de existência jamais teria espaço na televisão de 2024. A sociedade passou por grandes transformações.

Temas relevantes, como representatividade, diversidade e feminismo, ganharam força e provocaram mudanças na maneira como minorias eram retratadas na mídia. A trupe do Pânico, porém, parece não ter acompanhado a evolução da última década, preferindo abraçar o conservadorismo e se agarrando a uma forma anacrônica de se comportar.

A prova mais recente disso foi a lamentável maneira como Emílio Surita se referiu ao jornalista Marcelo Cosme. Se há 20 anos todos aqueles trejeitos feitos ao vivo por Emílio para representar o âncora da GloboNews poderiam ser vistos como mera piada, hoje, entendemos que essa atitude configura um tremendo desrespeito e um ato descarado de homofobia.

Muitos membros da comunidade LGBTQIPNA+ enfrentam problemas de saúde mental por lutarem pelo direito de existir da forma como eles são. Pessoas são assassinadas por não se encaixarem num padrão heteronormativo.

Só no ano passado, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de assassinatos de LGBTQIPNA+ aumentou 42% em comparação a 2022. Coibir e repudiar gestos como os de Emílio não é mimimi.

Esse recente episódio se soma a uma série de falas problemáticas que Emílio vem colecionando nos últimos tempos. De declarações machistas ("Mônica Bergamo tem uma tatuagem de Lula na virilha", pois uma mulher jornalista não faria a apuração dos fatos se não tivesse 'apaixonada') a análises apontadas como racistas ("O brasileiro tem muita inveja de quem se destaca, isso é uma coisa da escravidão. Isso vem dos escravos"), o líder do Pânico se tornou uma metralhadora de conservadorismo.

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Diante desse contexto, cabe o questionamento: não está na hora de Emílio Surita se aposentar da TV? Um afastamento poderia evitar um desgaste mais intenso da imagem do apresentador e resguardar o pouco da trajetória profissional de Emílio que permanece preservada. De brinde, o público seria poupado de ouvir uma série de declarações que só reforçam preconceitos e estereótipos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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