Ricky Hiraoka

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Reportagem

Melhor que doc de Xuxa, série sobre Paquitas expõe abusos de Marlene Mattos

Desconhecidas da geração Z, as Paquitas, grupo de assistentes de palco da apresentadora Xuxa, só ganhavam espaço na mídia nos últimos anos quando conseguiam uma vaguinha para o elenco de uma temporada de A Fazenda ou quando se envolviam em polêmicas relacionadas à política. Para quem não acompanhou o auge de Xuxa na TV, era difícil compreender por que essas mulheres ainda eram relevantes para se tornarem notícia ou participarem de reality shows. A série documental "Pra Sempre Paquitas", disponível no Globoplay, ajuda a explicar o que foi esse fenômeno midiático e cultural chamado Paquitas, que tomou conta do Brasil entre o fim dos anos 1980 e meados dos anos 1990.

Com uma narrativa mais coesa e mais dinâmica do que "Xuxa, o Documentário", lançado em 2023 pelo Globoplay, a série sobre as Paquitas tem como grande qualidade esmiuçar sem pudor como era a rotina de uma assistente de palco de Xuxa. Os relatos das Paquitas deixam claro que o sonho de trabalhar ao lado de Xuxa era, na verdade, um grande pesadelo, já que, além de uma carga horária puxadíssima, elas ainda precisavam enfrentar as exigências e o destempero da diretora Marlene Mattos, que comandava com mão de ferro os programas da Rainha dos Baixinhos.

Ao longo dos cinco episódios, não faltam depoimentos fortes sobre abuso moral e psicológico e sobre a pressão para estar dentro dos padrões de beleza sofridos pelas Paquitas cujas idades variavam de 11 a 17 anos. Tudo, segundo elas, promovidos por Marlene Mattos, que é descrita como uma profissional centralizadora, grosseira e que gostava de criar um clima de insegurança perene para controlar as Paquitas e toda a equipe envolvida no Xou da Xuxa. Marlene Mattos, que apareceu no documentário de Xuxa, não se deu ao trabalho de rebater as acusações das ex-Paquitas e recusou dar entrevista para a série "Pra Sempre Paquitas".

Se as Paquitas não poupam detalhes da relação para lá de turbulenta que mantinha com Marlene Mattos, elas pouco exploram os conflitos e as picuinhas internas do grupo. Uma ou outra briga é relembrada pelas ex-assistentes de Xuxa, o que deixa o projeto com um certo ar de chapa de branca, mas nada que comprometa a narrativa da série, que é recheada de outras polêmicas, como o livro que um funcionário do Xou da Xuxa escreveu a partir de depoimentos que as Paquitas lhe deram acreditando que ele faria uma peça de teatro sobre a rotina que elas viviam na TV.

Mais do que passar a limpo a história das Paquitas, "Pra Sempre Paquitas" aproveita para fazer um mea culpa sobre a falta de diversidade do grupo, que nunca teve uma integrante negra no Brasil, e consegue também fazer um retrato dos valores da sociedade brasileira do período em que as Paquitas bombavam. A série entretém, mas também faz o espectador pensar sobre como evoluímos e já não toleramos comportamentos que antes eram naturalizados.

Reportagem

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