Ricky Hiraoka

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Criadora de 'Volta Priscila': 'Série não tem que cumprir papel da polícia'

Um dos maiores mistérios da crônica policial brasileira das últimas décadas, o desaparecimento de Priscila Belfort, irmã do lutador Vitor Belfort, voltou a repercutir na mídia e ser assunto nas rodas de conversa graças ao lançamento da série documental "Volta Priscila", disponível no Disney+ desde a última quarta-feira (25).

A produção é resultado do esforço e da dedicação da jornalista e pesquisadora Bruna Rodrigues que, em 2020, junto com a montadora Fernanda Camargo, começou a estudar o caso a fim de desenvolver um projeto audiovisual para negociar com plataformas de streaming, que há anos olham com atenção tudo que é relacionado a crimes reais. Após ler todas as notícias que encontrou sobre o desaparecimento de Priscila Belfort e montar uma timeline de 16 páginas com os principais acontecimentos que mapeou, Bruna percebeu que, embora várias lacunas precisassem ser preenchidas, havia uma história que merecia ser contada.

O momento chave [para viabilizar a série] é o contato com Jovita, mãe de Priscila. Apresentamos uma proposta narrativa para a família e a recepção (dos familiares) foi muito boa. O que eu queria passar para a família Belfort era o seguinte: vocês vão ter segurança para trabalhar comigo, jornalista, que sabe e respeita a ética da profissão. Se a família não tivesse interesse, não teria dado sequência [ao projeto].

Já em contato com a família Belfort, Bruna foi tentando entender quem era Priscila. "Lá atrás, havia uma confusão sobre ela. É secretária? Estudante? Desempregada? Irmã do Belfort? Cunhada da Feiticeira? Esses apostos sempre me incomodavam", diz. Enquanto decifrava a personalidade da protagonista de sua série e se aprofundava ainda mais em suas pesquisas, Bruna fechou um acordo com a produtora Pródigo para que eles a ajudassem a viabilizar o projeto, que foi adquirido pela Disney +.

Com a entrada da plataforma de streaming, a série tomou corpo e ganhou uma equipe, que trabalhou por dois anos e meio para tirar a produção do papel. Ao lado do diretor Eduardo Rabajally, dos pesquisadores Thiago Mattar e Carolina Tiemi e das roteiristas Nathalia Guinet e Laura Artigas, Bruna definiu que, mais do que relembrar o caso, o grande objetivo da série era honrar a memória de Priscila. "A Priscila não está aqui para se defender. Como criadora de uma série tão complexa como essa, eu teria que me tornar guardiã da história da Priscila de uma forma muito ética e coerente.", relata.

Ao longo da produção de "Volta Priscila", Bruna conversou com mais de 50 pessoas que conheceram Priscila Belfort e diz que a maior dificuldade que encontrou nesse processo foi a passagem do tempo. "Ainda que as pessoas guardem [o acontecimento] na memória devido ao trauma da situação, os detalhes escapam", afirma. "Recuperar essa memória não foi uma tarefa fácil, porém há algo muito interessante: elaborar o que ocorreu fez muito bem para essas pessoas."

Apesar do desaparecimento de Priscila Belfort ser um caso sem solução, Bruna enfatiza que a série nunca teve como objetivo resolver esse mistério. "Desde o primeiro momento, não temos a pretensão de cumprir um papel que não é de uma obra audiovisual. Esse papel é da Polícia Civil e do Ministério Público", explica. "O que surpreende —e é muito bom— é entender que uma obra audiovisual também tem um impacto na realidade. O caso está reaberto. Fico muito feliz que um projeto desse possa diretamente impactar essa investigação. A gente pode honrar a memória da Priscila e mostrar a menina sensacional que ela era."

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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